Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 101

Entende-se que o McDonalds, um estabelecimento comercial de atendimento, deveria ter a obrigação de possuir ciência das características de crime de homofobia e com isso deveriam ter acionado imediatamente a polícia, ao que os seguranças vendo e situação e percebendo seu teor criminoso, segundo o novo enquadramento legal e penal, deveriam impedir o violador da lei de ir embora diante dos fatos. Com a chegada da polícia, poderia ser realizada a emissão do flagrante, ao que os demais clientes e funcionários ainda poderiam ser, se necessário fosse, arrolados como testemunhas.

Após o episódio e a saída tranquila do rapaz como se nada tivesse ocorrido, dois rapazes do grupo apresentaram sinais visíveis e claros de stress pós-traumático em função do ocorrido dentro do McDonalds, ao que um deles entra em pânico, permanecendo inicialmente extremamente estático e apático e na sequência denota agitação psicomotora e persecutoriedade, acreditando que o jovem homofóbico poderia voltar a lanchonete e atacá-los, seja dessa vez acompanhado de outras pessoas ou mesmo portando alguma espécie de arma de fogo. Ao mesmo tempo, outro rapaz do grupo entra em uma crise de choro forte por se sentir injustiçado, impotente, violado, desprotegido e de mãos atadas diante da situação.

Após tudo isso, a gerente de plantão, a senhora Stefanny, procura o grupo de rapazes para entender o ocorrido e se compromete a repassar o ocorrido aos seus superiores, pegando os telefones pessoais de cada componente do grupo. Até o momento, apenas uma ligação por parte do McDonalds ocorreu para apenas um dos rapazes do grupo. O Mcdolnalds apenas se “desculpou” pelo ocorrido de forma protocolar e nada empática e afirma ainda que os seguranças agiram de forma correta.

É relevante trazer que os seguranças perceberam a inadequação do jovem, mas parecia que não tinham clareza de que aquilo que estava ocorrendo ali naquele momento já é considerado crime no Brasil, crime esse tipificado com base inclusive na lei contra o racismo que prevê que tal conduta é inafiançável e imprescritível e que a pena pode chegar a reclusão, de acordo com a conduta exercida.

O que o grupo de amigos gays esperavam e desejavam era um posicionamento efetivo e formal por parte do McDonalds em relação ao ocorrido e que novos protocolos de segurança fossem desenvolvidos para que futuras situações como essas fossem evitadas, assim como, que todos os funcionários, tanto gerentes, atendentes e seguranças fossem melhor treinados diante de fatos como esse, baseados nas novas leis vigentes para esse tipo de crime.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 100