Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 100

PATHOS / V. 10, n.03, 2019 99

Σ

Nessa hora, percebendo o potencial conflitivo e tenso envolvendo a todos, o grupo de amigos recorrem, então, a subgerente da loja, a senhora Karina, solicitando a ela que acionasse os seguranças da lanchonete para que tomassem uma posição e se fosse o caso, que retirassem do estabelecimento quem estava tumultuando o ambiente e agindo de forma criminosa. A subgerente percebendo e assistindo o ocorrido chamou os dois seguranças e solicita aos mesmos que retirassem o jovem agressor de dentro da lanchonete, situação essa que não foi acatada pelos seguranças.

Os seguranças nesse momento optam, por livre escolha, por apenas retirar a garrafa das mãos do jovem, mas permitem que o mesmo continue dentro da loja atacando verbalmente os rapazes do grupo. Mesmo na presença dos dois seguranças, dois homens fisicamente bem fortes e com estatura bem alta, o jovem agressor continuou a atacar com ofensas homofóbicas e intimidadoras. Nesse momento, os ânimos já estavam bem exaltados e por não receberem o devido respaldo por parte do McDonalds, o grupo resolve então chamar a polícia, pois as agressões continuavam e nada parecia que o impediria de continuar.

O grupo entendeu que seria de responsabilidade do próprio McDonalds chamar a polícia, uma vez que tal situação ocorrera dentro da própria lanchonete e pelos responsáveis perceberem claramente que nem a figura dos seguranças não estava sendo suficiente para controlar a situação. Como o estabelecimento não chamou a polícia, o rapazes então ligam para o 190 e explicam por telefone tudo o que estava ocorrendo, ao que simplesmente orientaram que deveriam fazer um boletim de ocorrência na polícia civil, que eles eram apenas policiais militares e que nada poderiam fazer.

Aqui, cabe as perguntas: contra quem os rapazes do grupo fariam o boletim de ocorrência? Contra o jovem que não sabiam nem o nome? Contra o McDonalds que foi de certa forma conivente e inábil com o que estava ocorrendo? A quem deveriam pedir ajuda numa situação como essa? Será que somente um processo por danos morais seria o caminho?

A audácia e ódio era tão grande por parte do jovem agressor que mesmo com a polícia na linha no viva voz, o mesmo continuava a pronunciar as barbaridades, denunciando uma postura de pouco caso e de descrédito. O empoderado da história parecia ser ele, como se houvesse certa autorização social, institucional, cultural e política para ele fazer o que estava fazendo. Será que ele está correto? Será que de fato ele pode ficar tranquilo que nada acontecerá, seja por parte do McDonalds que permitiu que o mesmo permanecesse dentro da loja ofendendo e agindo criminosamente contra outros clientes, ou pelo fato da polícia não se mobilizar em ir até o local dizendo somente que o grupo deveria fazer um B.O.?