Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 79

Entrevista-paciente

(Cisne Negro)

Cláudia Ketter

A paciente (Nina Sayers) entra no consultório, acompanhada da mãe (Erica), na UBS Vila Romana para a primeira consulta com psiquiatra. Na semana anterior, passaram pelo acolhimento da saúde mental e a assistente social solicitou a vaga de atendimento. A mãe queria um acompanhamento psicoterápico para a filha, por estar passando por um “momento de estresse”. No prontuário, a assistente social descreve o acolhimento, evidenciando sinais de: “possível depressão? Skinpicking?”.

Nina tem 28 anos, é bastante magra e delgada, bailarina profissional e mora com sua mãe, Erica.

Cláudia: Boa tarde. Meu nome é Cláudia, sou residente de psiquiatria e vou fazer o atendimento hoje! Contem um pouco sobre o que trouxe vocês a procurar uma consulta.

Nina: (sem fazer contato visual, olhando para o chão) Nem sei ao certo!

Mãe: (gesticulando bastante) Eu que quis trazê-la! Ela está passando por muito estresse agora com a escolha do papel principal de o “Lago dos Cisnes”. Sempre foi muito talentosa, minha Nina, perfeccionista! Sabe, eu também era bailarina profissional, então sei reconhecer o talento da minha filha! Mas sinto que desta vez o estresse está sendo demais e ela precisa estar bem para dar conta de tudo!

Cláudia: Você está se sentindo sob muito estresse, Nina? Como está sendo esse processo todo na sua visão? Você concorda com a sua mãe?

Nina: Ah... acho que sim. É um ambiente bastante competitivo. Temos sempre que estar perfeitas... mas nada demais.

Mãe: Mas desta vez tá bem pior, né filha? Você não tem dormido bem, tem arrancado essas pelezinhas dos dedos... ai! Que aflição que me dá ver essa sua mão toda vermelha nos cantinhos! Isso ela não fazia, viu doutora? Agora, fica se machucando e arranca pelezinhas, às vezes, até sangrar!

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 78