Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 71

Quando abordamos a questão escolar de aprendizado não podemos esquecer essa dimensão conflitiva da vida humana. Todo esforço histórico na construção da democracia e dos direitos fundamentais parte desse pressuposto histórico: os seres humanos, iguais na sua natureza e dignidade, são diferentes nas suas concepções e visões de mundo, interesses, projetos, valores.

Vivemos em sociedades conflitivas com divergentes interesses econômicos, visões políticas, culturais, religiosas. Neste sentido é inerente ao ser humano tomar partido, ter uma posição, entre muitas, em face das questões sociais, das novas questões que emergem como a questão ambiental. Daí a importância do debate democrático, do diálogo, do respeito as opiniões e posições contrárias, na busca permanente das mediações, dos consensos, das possibilidades compartilhadas, dos denominadores comuns...

Não é negando as diferenças que vamos superá-las. A superação pela via democrática pressupõe que as diferenças sejam explicitadas para que sejam processadas e, assim, superadas ou postas em níveis superiores de discussão e avaliação.

Temos no Brasil e no mundo contemporâneo diferentes linhas de pensamento e compreensão da vida que se propõem a oferecer os parâmetros para organizar a vida social e política. Todas elas projetam suas luzes sobre a Escola. Querem-na à sua imagem e semelhança expressando os valores e convicções. Tanto assim que as correntes de pensamento são também chamadas Escolas: Escolas neoliberal, socialdemocrata, democrata-cristã, socialista. Podemos falar ainda das escolas anarquista, nazifascista.... Podemos fazer um corte mais rigoroso entre as Escolas que defendem e promovem os valores democráticos do pluralismo e as Escolas que expressa ou implicitamente, defendem e aplicam métodos ditatoriais.

Nesta perspectiva Escola sem Partido torna-se a Escola do partido único: o partido da escola sem partido. Trata-se de uma ideologia. A história nos ensina que toda ideologia quando imposta unicamente é um mal porque resvala inevitavelmente para a ditadura. O remédio contra as tendências autoritárias ou mesmo totalitárias é possibilitar a saudável convivência e a disputa transparente e democrática entre diferentes ideologias. Ninguém é imune a elas. Conscientes ou de forma inconsciente carregamos as nossas convicções religiosas, filosóficas, econômicas, políticas.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 70