Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 48

Não houve dificuldade quanto à escolha dos adolescentes, pois como esta unidade foi projetada para atender 20 adolescentes, optei por entrevistar a todos. Quando dei início ao período da entrevista havia 21 adolescentes no Espaço, porém ao término da mesma, apenas 18 socioeducandos encontravam-se na Unidade, daí ser este o número de sujeitos que compõe esta pesquisa.

Nas unidades de Internação da FASEPA, nos deparamos com adolescentes, tanto do sexo masculino, quanto feminino (cada gênero em suas respectivas unidades), autores de atos infracionais, com idade entre 12 a 18 anos incompletos (salvo os que estão cumprindo medida e completam a maior idade dentro dos espaços, que ao completarem 21 anos são desligados automaticamente do processo), oriundos de um sistema educacional, que de certa maneira, não conseguiu fazer com que estes sujeitos permanecessem no ambiente escolar, apresentando defasagens idades-série e um quadro de evasão e repetência em seus currículos escolares, apresentando em alguns casos, a não valorização da escolarização para sua vida, banalizando muitas vezes o seu ato e desvalorizando a sua própria vida e a vida das outras pessoas.

Este percurso terá como objeto de significação, as memórias destes adolescentes, suas curtas incursões pelos meandros da escolarização, através de uma visão de conjunto em um contexto sócio-histórico-cultural, engendrados pelo objeto discursivo como princípio constitutivo da linguagem, averiguando como no dizer de Arroyo (2004, p.131):

Os dilemas da infância, da adolescência e juventude populares que são: como articular viver, sobreviver ou estudar? Como primeiro é viver e sobreviver, o direito a educação, a escola, ao estudo se tornam escolhas no limite. Falta-nos um repensar dos currículos a partir das mudanças na precarização das formas de vida dos educandos.

Nesta pesquisa, busquei os referenciais teóricos da matriz sócio histórica em educação. Dado o seu interesse pelo construtivismo, como teoria, esta matriz passou de Piaget para Wallon e deste para Vygotsky que, por sua vez, influenciou em algumas das abordagens de Mikhail Bakhtin. Para Bakhtin (2000), o sujeito não é um gênio, todo-poderoso, mas também não é completamente apagado pela estrutura (história, ideologia, língua) ou pela forma. Há algo nesse espaço: o enunciado, o gênero discursivo, a escrita, o diálogo.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 47