Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 37

MOSAICO E A MUDANÇA PARADIGMÁTICA

Nos CECCOs, trabalhavam-se as relações, os acontecimentos e a ideia de grupalidade – que trabalha as singularidades dentro da unidade do todo. Há o respeito às diferenças e ações que visam proporcionar um movimento harmônico ou desafinações que fazem parte do processo da multiplicidade que se espera da proposta de CECCO. Por assim dizer, uma real mudança paradigmática, o que, consequentemente, trabalharia todas as instâncias do estigma e relações de poder que cercam o sujeito diferente em sofrimento. Não lhe seria dado estatuto de “louco”, mas de um sujeito único com suas necessidades e potências que integram o coletivo.

Nos CECCOs, as ações possibilitavam o protagonismo do sujeito, não seu anonimato (EMERICH & YASUI, 2016). As oficinas terapêuticas eram o caminho para que o indivíduo pudesse viabilizar a reconstrução de ações de autocuidado, a inserção profissional e a vinculação a relações afetivas que lhe dessem substrato para a melhora da autoestima e autoimagem com vistas à reinserção social, como também podemos encontrar em estudos (DIXON, et. al., 2012).

Tinha muita atividade com a população, tinha muita questão de preconceito com a loucura, até mesmo com deficientes, muitos ficavam em casa. Era um trabalho de dessensibilização, era muito forte isso. De uma forma geral, os CECCOs foram se integrando e se territorializando também (...). A inclusão era a palavra de ordem. De 2001 a 2011, acho que o que foi muito legal, quando se criou o ofício social, a gente fez isso na Secretaria de Participação e Parcerias, onde se desenvolvia a política da mulher, LGBT, dos negros, das minorias. A gente fez um programa de contratação de oficineiros para os CECCOs e envolveu todo mundo (...) durou quatro meses, mas foi muito legal (...) enquanto durou (...). Nós escolhemos fazer uma oficina no CECCO e uma fora, no sentido de alcançar lugares vulneráveis. Fizemos uma oficina em prédios ocupados, com folclore, também fazia no CECCO. A gente fez uma de grafite e quadrinhos na favela Nelson Cruz, região da Mooca (...).

O CECCO promovera um modelo que experimentou a mudança de paradigma, foi uma espécie de “corpo erógeno” (DELEUZE & GUATTARRI, 2009). Não é que fosse fragmentado, ou despedaçado, mas sim a constante emissão de singularidades, pura diversidade, sem totalidade, sem entidade hegemônica (GAMA, 2012).

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 36