Ordenamento de Território 5 de abril de 2021

Ordenamento de Território

LISBOA , FUTURAMENTE FALANDO

Estamos cada vez mais cientes que as cidades têm patologias inerentes à sua própria existência , e que os problemas desvendados pelos primeiros urbanistas no século XIX quase que podiam ser publicados atualmente a respeito das nossas metrópoles .

Por essa mesma razão , surgiram os primeiros movimentos modernos a cargo de um autodidata , o famoso Le Corbusier . Essas novas veias arquitetónicas vieram pela primeira vez introduzir duas características que nos dias de hoje consideramos indispensáveis no planeamento territorial , a matematização logística e o interesse público como uma prioridade . O que trouxe à discussão o seguinte dilema : “ Construímos quando houver necessidade de satisfazer a procura , ou contruímos para criar procura ?”, presentemente ainda sem resposta concreta .
A conceção matemática das cidades , ou “ Smart Cities ” como tanto ouvimos , tem como principal objetivo otimizar as atividades urbanas para atingir os melhores níveis de eficiência de recursos necessários à população , dando assim extrema importância à funcionalidade urbana . Portanto , uma futura sensorização da cidade de Lisboa dar-nos-ia a oportunidade de interpretar as evoluções passadas e criar previsões tendenciais de forma a estimar as melhores respostas aos estímulos urbanos . O que evitaria a construção e desenvolvimento de equipamentos coletivos que não respondam à procura de população , que falham na população base , nos critérios mínimos de programação e dimensionamento , ou mesmo na sua localização . Exemplos desses mesmos erros não faltam , desde ciclovias com taxas de fluxo perto de nulas ou serviços dimensionados para um número de utentes inferior ao da procura real . Ou seja , não podemos continuar a ignorar o papel de uma gestão municipal pragmática a troco de lideranças programadas exclusivamente por utopias ideológicas tendo como consequência o agravamento das desigualdades sociais e de acesso a serviços , a inibição do crescimento económico sustentável e a desintegração territorial .
Acrescentando , tornar ainda mais como prioridade o interesse público obriga os responsáveis pelo ordenamento do território a formatar os Planos Diretores Municipais de forma a englobar os interesses de todos os atores urbanos com uma justa ordem de importância . Responsáveis esses , que não têm apenas como função a conceção da grelha urbana , mas também o dever de legislar para que em certas decisões não tenha de existir um investimento economicamente não viável em novas infraestruturas . Os nossos bolsos têm fundo e em várias ocasiões se o investimento público tivesse sido complementado com ações legislativas de modo , por exemplo , a regular a entrada e saída de veículos particulares ou tornar cirurgicamente algumas áreas exclusivamente pedonais , teria significado menos tráfego rodoviário , e nos dias que correm podíamos dar-nos ao luxo de termos uma frota de transporte público rodoviário menor , com melhor nível de serviço , menos custos e investimentos , mais eficiência e melhor mobilidade . Um país desenvolvido não é um lugar onde os pobres têm carro , mas sim onde os ricos usam o transporte publico .
Não sei se a solução para os problemas lisboetas é a “ Cidade de 15 minutos ” da francesa Anne Hidalgo , se é a “ Nova Malha Reticulada ” de Nova Iorque ou mesmo se são os “ Superblocos ” que os nuestros hermanos implementaram em Barcelona . Apenas sei que não existe tal coisa como uma chave mestra quando o assunto trata o ordenamento do território . Logo , parece-me fundamental que num futuro próximo sejam criados mecanismos tecnológicos para combatermos as anomalias urbanas que coíbem o potencial alfacinha .
Rodrigo Santana Lopes