OpenMind Magazine Oct 2014 | Page 91

SAÚDE uma membrana”, explica o mastologista Pedro Aurélio Ormonde do Carmo, do Hospital Câncer III, do Instituto Nacional do Câncer – Inca. “Se essa membrana não foi rompida e as células tumorais estão contidas dentro do nódulo, temos um carcinoma in situ. Se elas já atravessaram essa membrana, falamos de carcinoma invasor”, esclarece. “Todo tumor in situ, se não for tratado, tende a evoluir para invasor”, completa o especialista. Por isso, a importância do diagnóstico precoce. O câncer de mama pode ser ainda do tipo inflamatório, que é uma forma de apresentação incomum dos carcinomas invasores. “É um tipo mais agressivo, com mais risco de metástase”, afirma Ormonde do Carmo. O carcinoma inflamatório se diferencia dos demais pelo fato de deixar a mama inchada e avermelhada, podendo a pele adquirir o aspecto de casca de laranja. Isso acontece porque as células tumorais se disseminaram pelos vasos linfáticos da pele que recobre a mama. Receptores Hormonais Seja ductal ou lobular, in situ ou invasivo, todos os tumores de mama devem ser testados quanto à presença de receptores para os hormônios femininos estrógeno e progesterona. Receptores são proteínas localizadas na superfície externa da célula. No caso dos receptores hormonais, sua presença indica que o tecido tumoral se prolifera em resposta a esses hormônios. “Essa informação é muito importante para o tratamento”, afirma o especialista do Inca. “Os tumores que são positivos para receptores hormonais têm melhor prognóstico, ou seja, são mais fáceis de curar”, acrescenta. O teste avalia a presença de cada receptor separadamente. Se o resultado for positivo para algum deles ou para ambos, a paciente passa a receber, além do tratamento convencional (quimio e radioterapia, por exemplo), a chamada hormonioterapia, que impede o acoplamento do hormônio com seu receptor, retardando o crescimento tumoral. Normal- mente, a medicação leva a uma interrupção temporária dos ciclos menstruais. HER2 Positivo Tão indispensável quanto o exame para receptores hormonais é o teste para o receptor HER2, que também é uma proteína localizada na membrana das células. “Em até 25% dos casos de câncer de mama, essa proteína aparece em excesso, indicando que se trata de um tumor mais agressivo, ou seja, o risco de recaída, após o tratamento convencional, é bem maior”, explica o oncologista Aman U. Buzdar, oncologista do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, que esteve em São Paulo em 2009 para um congresso organizado pelo Hospital A. C. Camargo. Tal como os receptores hormonais, a positividade para HER2 implica no uso de uma medicação específica que se somará ao tratamento e cujo objetivo também é bloquear o receptor, diminuindo a velocidade de crescimento do tumor. Segundo Buzdar, nos casos em que a doença está em estágio inicial, o tratamento específico pode reduzir o risco de recorrência da doença em até 50%. “É importante que a paciente cobre do médico o teste de HER2”, completa o especialista. Triplo Negativo Um tumor de mama pode ser positivo para estrógeno, progesterona e HER2. Ou pode ser positivo apenas para um ou dois desses receptores. Ou pode, ainda, ser negativo para todos eles, o que os oncologistas chamam de tumor triplo negativo. “São tumores mais agressivos”, afirma Ormonde do Carmo. “Como não há um receptor para atacar com medicamentos específicos, o tratamento é mais difícil”, acrescenta. Por outro lado, essas pacientes respondem melhor à quimioterapia. 91