OASIS OASIS - DIGITAL | Page 8

W al y S a Criar é não se adequar à vida como ela é, Nem tampouco se gru- dar às lembranças pretéritas Que não sobrenadam mais. Nem ancorar à beira-cais estagnado, Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa. Nascer não é antes, não é ficar a ver navios, Nascer é depois , é na- dar após se afundar e se afogar. Braçadas e mais braçadas até per- der o fôlego. ( Sargaços ofegam o peito opresso ), Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto Do corpo E não parar de nadar, Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar. Plas- mar bancos de areia, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías, es- pumas e salitres, ondas e maresias. Mar de Sargaços Nadar, na- dar, nadar e inventar a viagem, o mapa, o astrolábio de sete faces, O zumbido dos ventos em redemunho, o leme, as velas, as cordas. Os ferros, o júbilo e o luto. Encasquetar-se na captura da canção que in- venta Orfeu Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto. Só e outros poemas Soledades Solitude, récif, étoile. Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes Parir, desvelar, desocultar no- vos horizontes . Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea. E, mormente, remar contra a maré numa canoa furada Somente para martelar um padrão estoico-tresloucado De desaceitar o naufrágio. Criar é se desacostumar do fado fixo E ser arbitrário. Sendo os re- mos imatérias. (Remos figurados no ar pelos círculos das palavras.)