O Social - Julho/Agosto 2019 O Social - Julho/Agosto 2019 | Page 6
FALA , SERVI DO R!
A obsessiva tentativa
do governo Bolsonaro de
armar a população a todo
o custo demonstra desres-
peito às leis e aos poderes
constituídos. Os decretos
que visam flexibilizar a
posse, compra, registro e
porte de armas, afrontam
a legislação vigente e o
próprio poder da república
que a originou. O Estatu-
to do Desarmamento e o
Estatuto da Criança e do
Adolescente são exemplos
de legislação claramente
afrontada. Não se pode al-
terar por meio de decreto
critérios já estabelecidos
por lei. É lamentável que,
diante de um tema tão
delicado, nenhum tipo de
diálogo tenha sido travado
com a sociedade ou orga-
nizações da área da segu-
rança pública. Em um país
onde uma pessoa é exter-
minada com 80 tiros por
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o social
representantes do próprio
Estado, a proposta desse
regulamento nos coloca
diante de uma verdadeira
ameaça à paz social.
Uma grande preocu-
pação é a ampliação do
número de pessoas que
poderão pleitear o por-
te de armas em razão do
versas categorias profissio-
nais previstas no decreto.
O risco embutido no
aumento da violência se
intensifica em um cenário
onde o governo declara
abertamente sua into-
lerância aos opositores
e minorias. Onde seus
apoiadores são conclama-
O RISCO EMBUTIDO NO AUMENTO DA
VIOLÊNCIA SE INTENSIFICA EM UM CENÁRIO
ONDE O GOVERNO DECLARA ABERTAMENTE SUA
INTOLERÂNCIA AOS OPOSITORES E MINORIAS
exercício profissional. O
que se pretende é permi-
tir verdadeiros arsenais
domésticos para que, na
ausência de políticas pú-
blicas efetivas, a população
se autoextermine. Segun-
do dados preliminares do
Instituto Sou da Paz, apro-
ximadamente 20 milhões
de pessoas terão acesso à
armas considerando as di-
JULHO/AGOSTO 2019
dos a “metralhar” os que
não compactuam com
suas propostas.
Uma parcela da socie-
dade, seduzida pela faci-
lidade do acesso à arma
de fogo, acredita que ela
própria resolverá o proble-
ma da segurança pública.
Possuir arma de fogo em
casa aumenta os riscos
de mortes relacionadas a
acidentes com crianças,
feminicídios e suicídios.
Após a derrota no senado,
o presidente revogou os
decretos 9.785 e 9.797. Po-
rém, novos decretos foram
editados. Cada novo de-
creto editado é uma cópia
piorada do anterior. Cabe
à sociedade uma profunda
reflexão sobre as conse-
qüências desse instrumen-
to mortal. Precisamos nos
opor ao que nos prejudica
para que não nos torne-
mos vítimas ou reféns de
nossa própria inércia!
MÁRCIA ELAINE
CUIDADORA SOCIAL