O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 45
O TRAJETO DO GADO E O POVOAMENTO DOS SERTÕES: Produção de queijo no interior do Brasil
tão, já citado o vacum, esse dispensava a
proximidade com a praia e mantinha-se
adequado ao clima seco e árido do Sertão.
Também não exigia grandes investimen-tos para alimentá-lo e, nem tão pouco
necessitava de muitos escravos para trabalharem no seu pastoril, de maneira a atender aos interesses colonizatórios.
Apesar de todas as adversidades
que a região apresentava, a pecuária
demonstrava-se viável, ao ponto de os
escravos que cuidavam dos animais acabarem se tornando homens livres, passando a ser conhecidos como vaqueiros,
o que demonstra ser vantajosa a criação
de gado no Sertão. Os donos de enge-
"...para cada quatro crias, uma pertencia ao vaqueiro. Com essa forma de pagamento, era possível que alguns vaqueiros possuíssem seu próprio
criatório"
Do boi, tudo era praticamente aproveitado. No comércio interno, leite e carne. No comércio externo,
a exploração do couro.
nhos ou fazendeiros tinham, na pessoa
do vaqueiro, seu principal aliado nessa
aventura de “descobrir” o Sertão, enfrentando todo tipo de dificuldade encontrada pelos caminhos estranhos em
que a grande maioria se arriscava ao fazer a travessia de novos rios e estradas.
O vaqueiro, além de cuidar da alimentação dos bois e vacas, também acumulava a função de administradores das
fazendas ou dos currais. Como não havia
uma estipulação de salário, os criadores
de gado pagavam a seus trabalhadores
com animais, na seguinte forma: para
cada quatro crias, uma pertencia ao vaqueiro. Com essa forma de pagamento,
era possível que alguns vaqueiros possuíssem seu próprio criatório42.
Nos primeiros tempos, a criação do
gado foi uma atividade a que alguns se
dedicaram com espírito demasiado independente para se submeterem à hierarquia social rígida da civilização açucareira. Como não dispunham de capital
para montar engenhos, adquirir escravos e plantar canaviais, procuravam se
estabelecer sempre nas proximidades
da costa ou dos rios navegáveis, uma vez
que o transporte por água era o único
usado para grandes travessias.
Os criadores de gado bovino, se não
precisavam de tanta mão de obra para o
trabalho pastoril, precisavam de extensões
de terra maiores que as obtidas pelos senhores de engenho. Sobretudo, levando
em consideração que essas terras estavam
muito mais distantes das áreas férteis próximas ao Litoral, onde se desenvolveu o
plantio da cana-de-açúcar. Do boi, tudo
era praticamente aproveitado. No comércio interno, leite e carne. No comércio externo, a exploração do couro.
Essa atividade econômica, além de
favorecer um maior conhecimento em
relação às áreas do interior, quase então
desconhecidas propiciou o crescimento
econômico de pequenos sitiantes que,
a baixo custo, compravam os animais
debilitados, devido ao cansaço da longa
viagem, para depois vendê-los a preço
satisfatório. Além de poder negociar
com a pequena criação de gado, cultivavam pequenas lavouras e vendiam
aos transeuntes os excessos da colheita.
Isso fez com que alguns, graças ao conhecimento local, melhorassem e encurtassem as estradas, fizessem açudes e
plantassem cana, o que proporcionou ao
sertanejo uma de suas maiores alegrias,
a rapadura43.
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