O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 72
70
O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Usina Higienizadora do Leite do Recife, inaugurada em 1938
Na história do queijo de coalho, dá-se enfoque também aos que criam o rebanho na prática de gado na corda. Esse
tipo de criação era e ainda é praticada
por pequenos proprietários e “foreiros”,
que dispõem de pouca terra e, ao cuidarem de poucos animais, o fazem para o
fornecimento do leite à família e aumento do orçamento com a venda dos bezerros. Destacavam-se, na época, os municípios de Urucuba (ex-Cedro), Limoeiro,
Capoeiras e São Bento do Una, e outros
mais férteis, como Panelas, Cupira e
Agrestina, e os denominados ‘encostos
de brejo’. Esse tipo de atividade é marcante até os dias atuais, quando muitos
desses também produzem queijo de coalho somente para o consumo da família.
Quanto à produção de queijarias no
interior,
As “queijeiras”, hábeis na confecção do queijo do sertão, de requeijão
e do queijo coalho, começam a perder oportunidade de exercer a sua
profissão, em face do aparecimento
das desnatadeiras e das próprias
fábricas como a Castelo, em São
Bento do Una, e a Santa Maria,
em Bom Conselho. Hoje em dia é
difícil obter-se, nas feiras sertanejas, o queijo feito com leite que não
tenha sido desnatado (ANDRADE,
1961).
Quando observada a saúde animal,
numa visão sanitária, no Agreste de Pernambuco, as condições apresentavam-se razoáveis por causa da localização de
clima seco, bem mais saudável que outras áreas mais úmidas com florestas. Já
o carrapato, especialmente no inverno,
atacava o gado, sobretudo nas áreas mais
úmidas, já mencionadas. Com esse parasita, o gado Holandês era o mais prejudicado. No entanto, na região, o banho
de carrapaticida era muito utilizado durante os anos 1950 e 60, havendo o uso
de banheiros para tal finalidade.
Grandes foram as perspectivas
abertas ao Estado quando o governador
Agamenon Magalhães inaugurou, em
1938, a Usina Higienizadora do Leite
do Recife, com uma construção iniciada
desde o governo Lima Cavalcanti. A usina objetivava a venda do leite pasteurizado em recipientes com as condições de
higienização apropriadas. Seria, então,
necessária a matéria-prima, considerando a produção elevada com a demanda
que tendia a crescer. Com isso, passaram
a existir as cooperativas organizadas,
que, adquirindo a produção dos fazendeiros, remeteriam o produto ao Recife.
Contraditoriamente, várias cooperativas
decresceram em funcionamento no Estado Novo, por despreparo, assim como
motivadas pela revelia dos proprietários
associados, o que fez vir a Usina a fechar
em 1951, após atravessar administração
da Secretaria de Agricultura ou sob a direção de uma cooperativa de laticínios.
Organizaram-se, na época, ainda
outras cooperativas, como as de Laticínios de Limoeiro e a Laticínios Gravatá
S.A., em 1950 e 1951. Na organização
do mercado leiteiro, cujo período áureo foi em 1950, com as compras diárias