O Mocho Ano 1 - Número 2 - novembro 2013 | Page 51

O que aconteceu?

No dia um de Novembro de 1755, dia de Todos os Santos, Lisboa acorda com uma bonita manhã de Outono com temperaturas amenas e o sol brilhantes “ Os ares da atmosfera estavão mui subtis e puros” registou um lisboeta. “Fazia um tempo sereno e o céu não tinha uma nuvem”, descreve um comerciante inglês.

Pouco depois das 9 e meia da manhã “um rugido surge das entranhas da terra”. Um forte abalo abana Lisboa por mais de um minuto e meio e pouco depois a terra volta a tremer com mais força. Outras replicas se seguem e sabe-se hoje que o pico da atividade sísmica terá tido uma magnitude de 8,7 da escala de Richter.

Pouco restou da parte baixa da cidade, os símbolos do poder como o Palácio da Ribeira, os armazéns de especiarias e a sua grande biblioteca desabaram. Dos 65 conventos que existiam em Lisboa apenas cinco ficaram em condições. No Carmo ficam apenas de pé os arcos Góticos, mais de 30 palácios vêm abaixo, assim como muitos prédios e casebres, os seis hospitais de Lisboa e a Ópera do Tejo, inaugurada apenas há sete meses, ficam no chão.

Em Alcântara a terra fende-se, mas o aqueduto das águas-livres, acabado sete anos antes, fica de pé.

Cerca das 11:00 da manhã dá-se um forte réplica e o Tejo, que estava a vazar, retira-se para o largo de forma a se ver o fundo, para depois voltar com uma vaga enorme de cerca de “ mais 20 pés de altura”.

“ Enquanto a multidão estava reunida próximo da margem do rio, a água subiu a uma altura tal que ultrapassou a parte baixa da cidade”, carta de um comandante inglês. Segundo o embaixador dos Países Baixos em Lisboa “ no rio a maré subiu e desceu cinco ou seis vezes”.

Depois dos abalos, as velas dos altares e os fogões das casas atearam fogos com labaredas enormes. As casas de madeira, que se tinham aguentado de pé, sucumbem às chamas.

O incêndio lavra cerca de uma semana e vê-se em Santarém as chamas, como Voltaire disse “O último dia do mundo” chegara.

O rei D. José e restante família real encontravam-se em Belém, na Real casa de Campo. O Rei ficou tão transtornado que não voltará a Lisboa nos vinte anos seguintes e nunca mais habitou numa casa de alvenaria, preferindo viver em tedas e num palácio feito de madeira na Ajuda, a chamada “Real Barraca”.

in Francisco Neves, 9 minutos que abalaram o mundo, Jornal Público, 30 de Outubro de 2005 ( adaptado).

Cantinho da História

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