O lugar da Memória em Bento Rodrigues – Mariana / MG O lugar da memória em Bento Rodrigues | Page 22
BENTO RODRIGUES
– MG: ORIGENS,
TRAGÉDIA E LUGAR
DA MEMÓRIA
Índios da tribo Krenak, da reserva indígena localizada na cidade de
Resplendor consideram o curso d’água sagrado. Para eles, o desastre
além de dificultar as atividades diárias, foi um baque emocional.
Pesquisas realizadas pela UFSCar, UFMG, UnB, Greenpeace e coletivo
GIAIA em amostras coletadas nos rios atingidos, apontam nível de
oxigênio baixo, turbidez elevada e concentração de elementos tóxicos
muito acima do recomendado pelo Conselho Nacional de Meio
Ambiente, como o manganês - elemento neurotóxico que se consumido
pode causar distúrbios mentais – arsênio, ferro, alumínio e chumbo –
metal com efeito sobre os sistemas cardiovascular e nervoso
(GREENPEACE, 2015).
Encontra-se a 8 quilômetros de Mariana e a 9 quilômetros de Bento com
previsão de entrega para 2019. Os relatos apontam também que um
dos fatores decisivos para a escolha deste terreno, feita por meio de
votação, foi a proximidade de Bento Rodrigues, o que evidencia a forte
ligação dos moradores com o território.
A Samarco ainda detém grande autonomia sobre a área, visto que
construiu um novo dique em Bento Rodrigues no início de 2017, para
tentar impedir que a lama de rejeitos atinja o rio em casos de chuva.
Segundo os moradores, não houve autorização sequer do Ministério
Público e, ademais, o chamado “dique S4”, já construído, alagou parte
do território do subdistrito.
Não há um consenso quanto à recuperação do Rio Doce.
Especialistas preveem que o rio demore de meses a 30 anos para se
recuperar, tendo ainda aqueles que acreditem que a fauna e a flora
locais nunca mais voltarão ao normal. Outro estudo, da Fundação SOS
Mata Atlântica junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
aponta que ao menos 324 hectares de mata nativa foram destruídos
pela lama (SOS MATA ATLÂNTICA, 2015).
É importante ressaltar que a dimensão dos estragos referentes à
mineração era desconhecida para a maior parte da população. A
Samarco era considerada uma empresa confiável em termos de
segurança. O estudo de impacto ambiental, apresentado pela
mineradora, apenas previa pontos de inundação em Bento Rodrigues e
nas áreas de propriedade da empresa em caso de emergências pois a
barragem era classificada como sendo de baixo risco. Entretanto, nada
disso foi impeditivo para o desastre nas proporções que ocorreu.
De acordo com relatos, o desastre evidenciou a negligência da
Samarco perante os moradores de Bento Rodrigues, visto que deveria
avisá-los imediatamente sobre o rompimento da barragem, o que não
aconteceu. O lançamento de avisos sonoros por sirenes de urgência e
assessoria à comunidade em casos de emergência também não se
realizaram.
Após o desastre, a Samarco passou a controlar o acesso ao vilarejo de
Bento, por meio da instalação de um portão na sua entrada, alegando
prezar pela segurança das pessoas que viessem a visitar o local
destruído. Em meio à desordem, as poucas casas que não foram
atingidas pela lama, foram saqueadas.
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Devido aos estragos, poluição do solo, águas e ar, a população não
pôde permanecer na localidade, mesmo os moradores que não tiveram
suas casas atingidas pela lama, não têm possibilidade de continuar
morando num local apontado pelos especialistas como desprovido de
infraestrutura e qualidade ambiental para sobrevivência. Toda a
população continua residindo em casas alugadas pela empresa na
cidade de Mariana, ou casas de familiares, muitos estranhando a nova
realidade, completamente diferente da que viviam, numa área rural.
Aguardam a construção da Nova Bento Rodrigues, que será realizada
num terreno já escolhido por votação, denominado de Lavoura.
Figura
51: Dique S4 na fase de construção em Bento Rodrigues. Fonte:
www.agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-11/construcao-de-dique-pela-
samarco-em-area-tombada-causa-polemica-com-moradores