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BENTO RODRIGUES
– MG: ORIGENS,
TRAGÉDIA E LUGAR
DA MEMÓRIA
2.3. A mineração em Bento Rodrigues
Bento Rodrigues sempre teve sua existência relacionada à atividade
mineradora. Boa parte da população subsistia através desse modelo de
economia, muitos inclusive, funcionários da Samarco. Devido à forte
dependência financeira da atividade por parte da população,
porquanto a empresa mineradora era a maior empregadora da região,
defendiam fervorosamente a representatividade dessas empresas na
localidade, ao custo de viverem em estado de alarme, constantemente
assombrados pela possibilidade de rompimento das barragens de rejeitos
de mineração do Fundão e de Santarém (construídas à montante,
método mais inseguro) localizadas no subdistrito. Alguns, por não
vislumbrarem outras perspectivas de sobrevivência, acabam por se
colocar numa posição de defesa da atuação da empresa, defendendo
conjuntamente suas fontes de renda.
Figura 41: Faixa de apoio à atuação da Samarco exposta na MG-129. Fonte: Thiago
Amorim, levantamento de campo de Viagem de Estudos 01, EAU/UFF, fevereiro de 2016.
A possibilidade de rompimento de barragens (acontecimentos em
certa medida não tão raros quanto se imagina), sejam de hidrelétricas ou
de rejeitos de minério, constituem riscos conhecidos pela sociedade, para
as populações e ecossistemas adjacentes. Apesar disso, a indústria de
extração mineral no Brasil é totalmente dependente das barragens, pois:
“(...) constituem uma opção política e tecnológica
determinada por incentivos de mercado, práticas
corporativas inadequadas e intensificadoras de riscos
socioambientais e da inação estatal no que concerne à
fiscalização e controle” (WANDERLEY et al., 2016, p. 35-36.).
E não era diferente em Bento Rodrigues.
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2.3.1 Impactos da mineração na paisagem
Os impactos da mineração na paisagem surgiram a partir do século
XVII com a criação de uma rede urbana de pequenos núcleos formados
para este fim. Assim, a paisagem natural foi sendo transformada pela
ação humana em uma perspectiva de exploração extrativista que ao
longo dos anos ganhou mais peso em relação às alterações causadas
no meio.
A instalação de grandes empresas mineradoras em porções do
território faz com que impactos sejam gerados, transformando a
paisagem, impactando o solo e as relações territoriais, comprovando
assim o forte domínio das mineradoras sobre o entorno. Para além do
impacto econômico - a partir da narrativa da geração de empregos -
com a implantação da mineração em determinado local, há que se
falar também dos aspectos sociais e das relações identitárias das
comunidades locais que também são afetados.
A atividade mineradora pode gerar focos de erosão no solo,
desmatamento, poluição dos cursos de água e lençol freático, poluição
do ar, abertura de cavas para extração mineral, alterando o relevo e a
ambiência, sedimentação de rios pelo descarte indevido dos resíduos,
consequente mortandade de peixes e evasão de animais silvestres
existentes na área. Além disso, um grande volume de água é consumido
na extração mineral. De um modo geral, apontam-se como problemas:
poluição hídrica e do solo por elementos tóxicos, bem como do ar. A
utilização de produtos químicos podem contaminar o solo, alterando
suas propriedades. As chuvas arrastam esses produtos para os rios, que
também se contaminam. Durante o processo de infiltração de água, o
lençol freático também é atingido por essas substâncias.
A mineração estando presente no território de Bento Rodrigues desde
sua criação, permite inferir que foi fator determinante do espaço tal
como era, contribuindo para a definição da morfologia urbana e seu
consequente traçado de vias, entre outros aspectos ao longo do tempo.
O que se percebe é que séculos de exploração minerária na área
somados à escassez de investimentos públicos e ausência de fiscalização
tiveram como resultado uma paisagem descaracterizada pela abertura
de imensas crateras para extração mineral, o que altera a morfologia e
retira a cobertura vegetal, podendo causar também processos erosivos.