mente ao modelo de modernização econômica e de organização da
sociedade que se consolidara na Era Vargas, em moldes de uma
revolução nacional-popular por meio da expansão das funções
administrativas para estruturar de cima para baixo várias esfe-
ras da vida nacional, como ocorreu na economia, nos sindicatos,
nos meios de comunicação e na cultura.
Em primeiro lugar, Fernando Henrique se propunha aprofun-
dar o processo de estabilização macroeconômica iniciado no
governo pluripartidário de Itamar Franco, do qual fora ministro da
Fazenda, não como um fim em si mesmo, mas como condição para
o crescimento sustentado da economia e para o resgate da dívida
social. Defendia medidas que rompiam com o desenvolvimentismo
à moda antiga baseado na pesada intervenção estatal, seja através
da despesa, seja através dos regulamentos cartoriais.
O objetivo do seu governo era aumentar as taxas de investi-
mento, cujos pilares justamente radicavam na confiança na esta-
bilidade econômica do país e na construção de um marco institu-
cional que permitisse à iniciativa privada exercer “na plenitude o
seu talento criador”. Instaurar “uma verdadeira democracia
econômica e social”, como ele chamava, requeria que a ação do
Estado se voltasse para as maiorias menos organizadas ou inor-
ganizáveis: os consumidores, os contribuintes, os pobres e os
excluídos. Para isso, continuava o presidente eleito o seu discurso,
seria preciso resgatar o Estado da pilhagem dos “interesses estra-
tégicos”, das “conquistas sociais” exclusivistas, do corporativismo,
em suma, dos privilégios que distorciam a distribuição de renda.
O segundo ponto do programa de governo de Fernando
Henrique se voltava para a abertura da economia ao mercado
mundial daqueles anos 1990. Na contramão da grande maioria
das correntes de esquerda, ele via a integração do país à globa-
lização como um processo progressista e incontornável, sendo
necessário superar o modelo da industrialização substitutiva
das importações oriundo da Era Vargas. Fernando Henrique
conferia à política de “Exportar para importar” um sentido estra-
tégico, argumentando que se devia importar equipamentos e
insumos para acelerar a modernização e a expansão da indús-
tria, da agricultura e dos serviços domésticos. E importar bens
de consumo, mantendo uma proteção tarifária moderada para
que os preços internos se aproximassem dos preços internacio-
nais, e os ganhos de produtividade já ocorridos e por ocorrer se
transferissem para o conjunto da sociedade.
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Raimundo Santos