O imprevisível 2018 PD49 | Page 50

extremos , porque , para estes , elas de nada servem . Todavia , para a direita liberal brasileira , ou para a esquerda democrática , lembrar-se do processo que antecedeu e sucedeu ao golpe militar é de extrema atualidade .
Partidos e forças sociais e políticas que apoiaram o golpe militar e depois passaram a lhe fazer oposição , devem lembrar-se da evidência de que todas as ditaduras começam com promessas grandiosas e juras à democracia mas , via de regra , acabam com remessas volumosas de presos políticos com destino às masmorras e ao exílio , inclusive de apoiadores iniciais da implantação da ordem ditatorial . Líderes e aliados do movimento de 1964 , como o marechal Castelo Branco , a Igreja Católica , Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek foram , depois , isolados , perseguidos ou banidos do centro decisório da política pelas próprias forças que ajudaram a ascender ao poder .
No que tange à esquerda democrática , a experiência de não ter compreendido em toda a sua extensão o valor universal da democracia como elemento essencial para o avanço de suas plataformas de mudanças rumo a uma sociedade mais igualitária , custou-lhe algumas décadas de engessamento que agora , diante da crise de deslegitimação da esquerda como fruto das aventuras fisiológicas do PT e PSDB impõe certa impotência para que essa esquerda seja capaz de buscar as saídas e promover as articulações que impeçam o potencial destrutivo da polarização Lula / Bolsonaro nas próximas eleições .
Os que militam no arco da esquerda e do centro democráticos tiveram excelente oportunidade de reorientar a dinâmica perversa da política brasileira em termos políticos e ideológicos quando da ascensão do presidente Itamar Franco , cujo mérito foi oferecer à centro-esquerda brasileira uma oportunidade única para dar racionalidade histórica ao nosso xadrez político .
Aqui , por efeito de alguma síndrome Macunaíma , essa racionalidade histórica perdeu a oportunidade de existir quando o PT de Lula recusou-se , por uma obsessão hegemonista da política , a integrar o governo Itamar e , assim , selar uma aliança com o PSDB e outros partidos de esquerda que , ainda que passageira , arrumaria o xadrez político com aquela lógica que estabelece um mínimo de alinhamento entre política e ideologia no contexto de uma sociedade em movimento .
48 Anivaldo Miranda