O imprevisível 2018 PD49 | Page 36

No campo do Direito, é Weber o ignorado em sua veemente recusa às pretensões “patéticas”, em suas palavras, dos juízes que se comportam nos seus julgamentos em “nome de postulados de justiça social”. Exemplares, no caso, os juízes que desafiam a ordem racional-legal ao recusarem, em nome do que sua corpora- ção entende como o justo, a aplicação a lei da reforma da Conso- lidação das Leis do Trabalho, a CLT. Quem busca o futuro opera no plano do aqui e agora a partir de experiências acumuladas – a História não conhece o tempo vazio. Há sempre um começo, uns mais felizes que outros por propiciarem um terreno seguro para o bom andamento de suas sociedades, tal como Tocqueville caracterizava a singularidade do caso americano; outros, ao contrário, vão exigir esforços sempre renovados a fim de que a sociedade venha a encontrar, por ensaio e erro, um sistema de ordem que favoreça a sua repro- dução ao longo do tempo. Em nosso caso, dadas as condições de origem – uma colônia de exploração que logo recorreu ao trabalho escravo –, os “cami- nhos para a civilização”, que não nos seriam naturais, deveriam proceder de cima pela ação de uma elite a exercer um papel peda- gógico que nos trouxesse da barbárie às luzes do ideário do libe- ralismo político, na luminosa análise de Euclides da Cunha em ensaio famoso. Desde aí o acesso ao moderno nos viria da ação de elites ilustradas, fórmula conservada pela República ao longo do processo de moderniz ação que vai de Vargas a Lula. Somos filhos dessa longa construção, de cujos lógica, arqui- tetura e estilo começamos a nos desprender quando o governo de Dilma Rousseff, distante um oceano do pragmatismo do seu mentor, hipotecou, em nome de suas convicções pessoais, a sorte da sua administração na tentativa arriscada de conceder sobre- vida ao que, à vista de todos, Lula incluído, mais se assemelhava a um caso terminal. A própria presidente Dilma, logo após sua reeleição, vai reconhecer a exaustão do modelo vigente de capi- talismo de Estado ao nomear o liberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Nesse sentido, o impeachment importou bem mais do que uma trivial crise política, na medida em que trouxe consigo a crítica da modelagem do nosso capitalismo centrado no papel do Estado, levado a uma situação falimentar no governo Dilma, crítica que se radicalizou quando foram sentidos os efeitos nefastos da severa depressão econômica que se abateu sobre o país. O passado 34 Luiz Werneck Vianna