histórica da sua existência e propôs algumas condições, entre elas
a possibilidade de triunfo ou, pelos menos, a perspectiva de alcan-
çá-lo. Mas, para isso, era necessária a unidade de três grupos de
elementos: a) um elemento de homens comuns, cuja participação
seria caracterizada pela disciplina e fidelidade; b) o elemento prin-
cipal de coesão, que unificaria no campo nacional, tornando-o
eficiente e poderoso, um conjunto de forças. Este grupo seria dotado
de determinadas premissas, como criatividade, perspectiva e união;
c) um elemento médio, que articularia o primeiro grupo com o
segundo, colocando-os em sólido contato intelectual e moral.
Seu pensamento avançava por fragmentos, abandonados logo
em seguida; em outros casos, aperfeiçoava-os. Não era uma obra
sistemática. Por isso, há estudiosos e especialistas de sua obra que
apresentam grande diversidade de interpretações: uns, com mati-
zes, formas e graus diferentes, colocam-na no campo exclusivo do
leninismo; outros se interessam, fundamentalmente, pelas inova-
ções que ele introduziu na análise das superestruturas; e ainda há
quem o prefira como filósofo da sociedade industrial. A controvér-
sia é natural numa obra inconclusa.
O que é o homem? Para Gramsci, era a grande questão, a
primeira e principal pergunta da filosofia. E questionou: como
respondê-la? Sua conclusão foi resumida em ritmo de novas
perguntas, mais ou menos assim: o que o homem pode se tornar?
o homem pode controlar seu próprio destino? ele pode se fazer?
ele pode criar sua própria vida? E concluiu que o homem é um
processo – exatamente, o processo de seus atos. Em suma, a
humanidade se reflete em cada individualidade e é composta de
distintos elementos: a) o indivíduo; b) os outros homens; c) a natu-
reza. 11 Isto é, em outras palavras, o bloco histórico. Só metodolo-
gicamente é possível fragmentá-lo.
Não deixou de polemizar com o pensamento mais rigoroso e
mais fecundo que formava as grandes correntes de opinião. Assim
o fez quando estudou o conceito de classe política de Gaetano
Mosca, relacionando-o com o conceito de elite de Vilfredo Pareto.
Foi Benedetto Croce seu principal interlocutor. O conjunto dos
Cadernos do cárcere, na verdade, é um combate em duas frentes:
contra o pensamento especulativo e idealista (Croce) e a chamada
ortodoxia vulgar e positivista do marxismo.
E, hoje, as categorias gramscianas são reconhecidas e estuda-
das nos meios acadêmicos e políticos como instrumentos de
11 Gramsci, Antonio. Concepção dialética da história, cit., p. 39.
236
Gilvan Cavalcanti de Melo