Nada mais justo, ao se completarem oitenta anos de sua morte,
do que recordar algumas contribuições daquele pensamento inova-
dor na tradição de Marx.
Há uma controvérsia sobre o porquê da recusa de Gramsci em
usar o termo “materialismo” ou “marxismo”. Parte dos estudiosos
explica o fato como uma maneira de ultrapassar a rigidez da
censura. Entretanto, é preciso ressaltar que aqueles termos esta-
vam relacionados a uma leitura economicista, dogmática e orto-
doxa de Marx. O símbolo mais conhecido era o Manual (ou Ensaio
popular) de Nikolai Bukharin. Em defesa do novo conceito foi
buscar o exemplo de Marx no prefácio de O capital. Ali estavam
explicitados os termos “dialética racional” e “dialética mística”, em
vez de “dialética materialista” e “dialética idealista”. O próprio Marx
não quis se identificar com o materialismo vulgar.
Há outra convicção: o uso do termo “filosofia da práxis” foi uma
consciente revalorização da atividade cultural e da dimensão ético
-política. Ao mesmo tempo que travava uma batalha contra os
dogmáticos, não deixou de considerar, também, que a filosofia da
práxis deveria reconquistar a força criadora que marcava o pensa-
mento moderno, mesmo que preconceituoso e desfavorável a priori
em relação a Marx: Bergson, Sorel, Croce, Weber, Veblen, Freud,
William James e, através de Spengler, também Nietzsche.
Seria interessante relacionar a crítica que Gramsci fez a duas
correntes filosóficas existentes: uma ortodoxa, outra eclética.
A primeira tendência era representada por Plekhanov, cujo ensaio
mais conhecido era Os problemas fundamentais do marxismo.
A obra não foi poupada por Gramsci, que a chamou de materialista
vulgar e típica do método positivista. A segunda, que queria ligar a
“filosofia da práxis” ao kantismo e outras correntes não positivistas
e não materialistas, era representada por Otto Bauer, o qual chegou
a afirmar que o marxismo poderia ser fundamentado e integrado
por qualquer filosofia. Daí sua preocupação em colocar em circula-
ção o pensamento de outro italiano: Antonio Labriola. Era o contra-
ponto ao grupo intelectual alemão que exercia uma forte influência
em determinada leitura de Marx, na Rússia. Por isso, Gramsci
valoriza a ideia de Labriola de que a filosofia da práxis era indepen-
dente de qualquer outra filosofia, sendo autossuficiente.
Qual o núcleo central do pensamento gramsciano? A palavra-
chave é o homem como bloco histórico, categoria que adquiriu de
Sorel e a que deu outra dimensão. Discutiu o tema, contrapondo-se
à teoria da dualidade, presente inclusive em Georg Lukács. E assim
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Gilvan Cavalcanti de Melo