Gramsci, nos oitenta anos da morte
Gilvan Cavalcanti de Melo 5
Seremos marxistas? Existirão marxistas?
Tolice, só tu és imortal.
E
Gramsci
m 27 de abril de 1937, morria aos 46 anos Antonio Gramsci,
o mais importante, talvez o maior pensador da tradição
marxista ocidental do século passado. A morte o derrotou
no instante em que conseguira a liberdade: dois dias antes, rece-
bera o documento com a declaração de que não havia mais qual-
quer medida de segurança em relação a ele, assinado pelo juiz do
Tribunal Especial de Roma. Fora preso por ordem de Mussolini, em
8 de novembro de 1926. No processo-farsa montado pelo Estado
fascista, o acusador pediu aos juízes sua condenação e, diante de
Gramsci, sentenciou: “É preciso impedir este cérebro de funcio-
nar”. Condenaram-no, é verdade, mas não conseguiram impedir
que, de dentro da prisão, fosse escrita uma obra monumental.
Encarcerado, fez com que sua inteligência penetrasse na
densidade sombria da realidade. Recusou a vaidade demagógica
de uns e o dogmatismo degenerado de outros. Não pensou em
formular uma nova e original concepção da práxis. Só mais tarde
manifestou a consciência do valor de sua produção intelectual.
Ousou, de dentro do cárcere, na solidão política, desafiar a igno-
rância e as banalidades stalinistas. Foi também por muito tempo
negligenciado e desconsiderado inclusive por muitos companhei-
ros, os quais deveriam tê-lo valorizado e amado mais intensa-
mente. Em primeiro lugar, comovendo-se por aquele homem frágil,
sofredor e perseguido. Em segundo, admirando sua coragem e
combatividade. Em terceiro, admirando seu pensamento denso e
profundo, bem como seus ensinamentos e a visão inovadora sobre
a filosofia de Marx.
5 Dirigente histórico do PCB, já antes de 1964 colaborador de importantes jornais
como Folha do Povo (PE), A Hora (PE) e Novos Rumos (Rio). Estudou no Insti-
tuto Superior de Ciências Sociais (Moscou). Um dos fundadores do PPS (1992),
desde então faz parte da sua direção nacional. Membro do Conselho Editorial da
revista Política Democrática.
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