O imprevisível 2018 PD49 | Page 233

Gramsci, nos oitenta anos da morte Gilvan Cavalcanti de Melo 5 Seremos marxistas? Existirão marxistas? Tolice, só tu és imortal. E Gramsci m 27 de abril de 1937, morria aos 46 anos Antonio Gramsci, o mais importante, talvez o maior pensador da tradição marxista ocidental do século passado. A morte o derrotou no instante em que conseguira a liberdade: dois dias antes, rece- bera o documento com a declaração de que não havia mais qual- quer medida de segurança em relação a ele, assinado pelo juiz do Tribunal Especial de Roma. Fora preso por ordem de Mussolini, em 8 de novembro de 1926. No processo-farsa montado pelo Estado fascista, o acusador pediu aos juízes sua condenação e, diante de Gramsci, sentenciou: “É preciso impedir este cérebro de funcio- nar”. Condenaram-no, é verdade, mas não conseguiram impedir que, de dentro da prisão, fosse escrita uma obra monumental. Encarcerado, fez com que sua inteligência penetrasse na densidade sombria da realidade. Recusou a vaidade demagógica de uns e o dogmatismo degenerado de outros. Não pensou em formular uma nova e original concepção da práxis. Só mais tarde manifestou a consciência do valor de sua produção intelectual. Ousou, de dentro do cárcere, na solidão política, desafiar a igno- rância e as banalidades stalinistas. Foi também por muito tempo negligenciado e desconsiderado inclusive por muitos companhei- ros, os quais deveriam tê-lo valorizado e amado mais intensa- mente. Em primeiro lugar, comovendo-se por aquele homem frágil, sofredor e perseguido. Em segundo, admirando sua coragem e combatividade. Em terceiro, admirando seu pensamento denso e profundo, bem como seus ensinamentos e a visão inovadora sobre a filosofia de Marx. 5 Dirigente histórico do PCB, já antes de 1964 colaborador de importantes jornais como Folha do Povo (PE), A Hora (PE) e Novos Rumos (Rio). Estudou no Insti- tuto Superior de Ciências Sociais (Moscou). Um dos fundadores do PPS (1992), desde então faz parte da sua direção nacional. Membro do Conselho Editorial da revista Política Democrática. 231