Oitenta anos depois
Luiz Sérgio Henriques
E
ncerrando da nossa parte o “ano gramsciano” de 2017, esta
segunda coletânea de textos sobre o autor dos Cadernos do
cárcere segue a trilha aberta no número anterior da revista:
uma vez mais, temos aqui um Gramsci reinterpretado à luz de suas
categorias mais inovadoras, que a nosso ver o afastaram em pontos
decisivos do universo bolchevique original. Este, o Gramsci que
nos interessa discutir e divulgar, sem prejuízo de reconhecer, ao
mesmo tempo, a existência de conceitos e avaliações mais datados
que configuram um tributo do pensador ao seu tempo. Mas quem
não for além deste tributo inevitável não se transformará em clás-
sico nem poderá falar a todos indistintamente, abrindo-se a inter-
pretações variadas e estimulando trabalhos originais.
Este Gramsci inspirador de uma política democrática – não
por acaso o título desta revista – destaca-se claramente do
universo comunista, ao indicar, já na palavra de ordem da Assem-
bleia Constituinte para derrubar o fascismo em sua terra, um
modo diverso de encarar a questão democrática. Pouco a pouco
abriria caminho no comunismo “ocidental”, em particular no PCI,
o partido de Gramsci, a ideia de que a democracia não podia ser
tratada instrumentalmente, como algo que se usa e joga fora
depois da mítica “tomada do poder”. Esta compreensão espalhou-
se por outros partidos de origem terceiro internacionalista, como
mais tarde aconteceria com o próprio PCB. De fato, a partir dos
anos 1960, alguns de seus intelectuais mais proeminentes cuida-
ram de traduzi-lo e editá-lo, colocando o pensador sardo à dispo-
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