O imprevisível 2018 PD49 | Page 223

Oitenta anos depois Luiz Sérgio Henriques E ncerrando da nossa parte o “ano gramsciano” de 2017, esta segunda coletânea de textos sobre o autor dos Cadernos do cárcere segue a trilha aberta no número anterior da revista: uma vez mais, temos aqui um Gramsci reinterpretado à luz de suas categorias mais inovadoras, que a nosso ver o afastaram em pontos decisivos do universo bolchevique original. Este, o Gramsci que nos interessa discutir e divulgar, sem prejuízo de reconhecer, ao mesmo tempo, a existência de conceitos e avaliações mais datados que configuram um tributo do pensador ao seu tempo. Mas quem não for além deste tributo inevitável não se transformará em clás- sico nem poderá falar a todos indistintamente, abrindo-se a inter- pretações variadas e estimulando trabalhos originais. Este Gramsci inspirador de uma política democrática – não por acaso o título desta revista – destaca-se claramente do universo comunista, ao indicar, já na palavra de ordem da Assem- bleia Constituinte para derrubar o fascismo em sua terra, um modo diverso de encarar a questão democrática. Pouco a pouco abriria caminho no comunismo “ocidental”, em particular no PCI, o partido de Gramsci, a ideia de que a democracia não podia ser tratada instrumentalmente, como algo que se usa e joga fora depois da mítica “tomada do poder”. Esta compreensão espalhou- se por outros partidos de origem terceiro internacionalista, como mais tarde aconteceria com o próprio PCB. De fato, a partir dos anos 1960, alguns de seus intelectuais mais proeminentes cuida- ram de traduzi-lo e editá-lo, colocando o pensador sardo à dispo- 221