Aos 150 anos de O capital
Horacio Tarcus
D
os livros com que os reformadores sociais do século 19
buscaram redimir a classe operária, só O capital alcan-
çou o caráter de obra consagrada, e inclusive sacralizada
como a “Bíblia do proletariado”. Trata-se de um livro complexo,
mais reconhecido (e venerado) que lido. Ler O capital, traduzi-lo,
editá-lo, comprometia as mais diversas estratégias.
A história de suas edições em língua espanhola é uma verda-
deira saga transatlântica, atravessada por revoluções, guerras,
ditaduras e exílios. E, não menos importante, por querelas sobre
tais ou quais conceitos que nunca foram meramente «técnicas»,
mas que expunham concepções enfrentadas de como entender a
luta política e a emancipação humana.
Relata Francis Wheen, em seu livro La historia de El capital,
de Karl Marx, que, em fevereiro de 1867, pouco antes de enviar
sua obra magna à imprensa, “Marx insistiu junto a Friedrich
Engels para que lesse a obra mestra desconhecida, de Honoré de
Balzac. Segundo lhe disse, a história era em si uma pequena obra
‘repleta da mais deliciosa ironía’”. 1
O relato fala também de Frenhofer, um grande pintor que
dedica dez anos de sua vida a trabalhar, sem descanso, em um
retrato que devia revolucionar a arte ao proporcionar «a mais
completa representação da realidade». Porém, por tentar aperfei-
1 Carta de Marx a Engels, 25/02/1867 em: Correspondência Marx-Engels, mega,
V. III, p. 376.
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