Prova do momento de indefinições e jogos de cena é a sofregui-
dão com que se sai em busca de um nome que simbolize o “novo”
em política. Dia sim dia não há quem procure fabricar um nome
ad hoc. O campeão do segundo semestre de 2017 foi Luciano
Huck, cortejado por muitos. É o novo que parece caído do céu,
confortável, mas que levanta mais suspeitas que adesões entu-
siasmadas. Ele, ao menos, no artigo em que no final de novembro
declarou não pretender ser candidato, mostrou cautela suficiente
e consistência, contribuindo para manter viva a ideia da articula-
ção democrática e da renovação política. Pode ser que volte a ser
cogitado, mas por enquanto está na posição de colaborador.
João Dória também tentou ocupar esse espaço, impulsionado
pela vitória nas eleições municipais do ano passado, mas recuou
depois de ter sua gestão mal avaliada pelos paulistanos e de ter
recebido mais vaias que aplausos em sua peregrinação nacional.
Há Meireles, claro, correndo por fora, mas com apetite. Sem falar
de Joaquim Barbosa, ou de João Amoêdo. Até Marina Silva
trafega por essa pista.
Há também o novo, representado por Jair Bolsonaro, que exibe
certo fôlego mas tem muitíssimos flancos desguarnecidos. É novo
porque vocaliza a raiva social contra tudo o que está aí, a come-
çar dos políticos, porque oferece a “autoridade” que vários grupos
acreditam faltar no país, porque vende a “firmeza” e a “convicção”
tão apreciadas pela direita extremada, não democrática, porque
se apresenta como não tendo vínculos, laços e compromissos com
a classe política. Mas Bolsonaro é um novo velho, chamuscado
pelos seguidos mandatos parlamentares e pela mesma inoperân-
cia parlamentar que ele acusa nos demais. É um novo que oferece
comida requentada, que ele até agora tem conseguido esconder.
O mais provável é que desidrate quando a corrida eleitoral come-
çar para valer. Mas nunca se sabe.
Muitos dos que incentivam candidaturas desse tipo agem
como se acreditassem na existência de um fulano “puro” ou de
alguém com maturidade inata e densidade suficiente para
conquistar o povo, assumir o governo federal e fazer algo “dife-
rente”. Nenhuma das figuras que jogam e se jogam na mesa
passaria pelo crivo da política tal como ela é, com seus defeitos e
suas virtudes, ou seja, com suas características próprias. Candi-
datos não são inventados a bel-prazer, e quando o são (Dilma, por
exemplo) o resultado quase nunca é bom.
O centro, a esquerda democrática e o novo como fetiche
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