O imprevisível 2018 PD49 | Page 180

– com qualificação em todas as áreas. Para dar um exemplo extremo e óbvio: doutor Paulo não me consultou sobre a técnica que deveria usar para implantar o marca-passo no meu peito; e eu ouso dar aulas e fazer palestras sem per­g untar a opinião dele sobre fatos históricos. A qualificação existe, senhores. Assim, que me desculpem os palpiteiros, mas competência é preciso. Claro (não fin­jam que não entenderam meu argumento) que não me refiro a assuntos e temas sobre os quais qualquer cidadão pode e deve se manifestar. Qualquer um pode e deve opi­nar por exemplo, sobre reforma política (Menos partidos? Voto distrital? Fim das co­ligações? Financiamento oficial? De empre­ sas? Só de pessoa física?). Todos podem e de­vem entrar na discus- são sobre se questões de saúde pública (como o aborto) devem ser confundidas com questões religiosas. Se fo­ ro especial não é prática antirrepublicana que beneficia apenas os já beneficiados e cria cidadãos de classes diferentes em uma sociedade que deve- ria privilegiar a igualda­de de oportunidades. Se já não chegou o momento de acabar com essa folga de autoridades re­quisitarem aviões oficiais para passar o fim de semana em seus feudos (feudos sim, senhor) elei­torais etc. etc. etc. É evidente que não se deve to­lher o exercício pleno da cidada­ nia, que inclui o direito à mani­ festação, pelo contrário. O que defendo é o direito à informação séria, responsável, relevante. É fundamental ficar alerta, selecio­nar criteriosamente as fontes, evitando-se divulgar notícias fal­ sas, textos apócrifos, supostas opiniões de figuras conhecidas que nunca disseram aquilo, tre­ chos truncados que distorcem o conteúdo e, não menos impor­ tante, provocações irrespon­ sáveis. E aí voltamos à questão da leitura de livros. Se você, impro­vável leitor deste artigo, não for um leitor de livros, eu sinto muito. Ainda é neles que está deposi- ta­do grande parte do patrimônio cultural da humanidade. Em livros estão registrados desde os textos sagrados das três mais importantes religiões monoteístas do mundo até as reflexões mais sofisticadas dos pensadores contemporâneos, passando por todos os teóricos sociais, estudos de economia, avaliações históri- cas das princi­pais organizações sociais cria­das pelo homo sapiens. Há li­ v ros para adultos e para crian­ ças, para ler na praia, no metrô, no escritório, na cama. E, se pensarmos em ficção, com li­v ros, a gente cria o personagem do nosso jeito, não fica sujeito aos caprichos do diretor do fil­me, por isso melhor que ver um bom filme é ler um bom livro. 178 Jaime Pinsky