– com qualificação em todas as áreas. Para dar um exemplo
extremo e óbvio: doutor Paulo não me consultou sobre a técnica
que deveria usar para implantar o marca-passo no meu peito; e
eu ouso dar aulas e fazer palestras sem perg untar a opinião dele
sobre fatos históricos. A qualificação existe, senhores.
Assim, que me desculpem os palpiteiros, mas competência é
preciso. Claro (não finjam que não entenderam meu argumento)
que não me refiro a assuntos e temas sobre os quais qualquer
cidadão pode e deve se manifestar. Qualquer um pode e deve
opinar por exemplo, sobre reforma política (Menos partidos? Voto
distrital? Fim das coligações? Financiamento oficial? De empre
sas? Só de pessoa física?). Todos podem e devem entrar na discus-
são sobre se questões de saúde pública (como o aborto) devem ser
confundidas com questões religiosas. Se fo
ro especial não é
prática antirrepublicana que beneficia apenas os já beneficiados
e cria cidadãos de classes diferentes em uma sociedade que deve-
ria privilegiar a igualdade de oportunidades. Se já não chegou o
momento de acabar com essa folga de autoridades requisitarem
aviões oficiais para passar o fim de semana em seus feudos (feudos
sim, senhor) eleitorais etc. etc. etc.
É evidente que não se deve tolher o exercício pleno da cidada
nia, que inclui o direito à mani
festação, pelo contrário. O que
defendo é o direito à informação séria, responsável, relevante.
É fundamental ficar alerta, selecionar criteriosamente as fontes,
evitando-se divulgar notícias fal
sas, textos apócrifos, supostas
opiniões de figuras conhecidas que nunca disseram aquilo, tre
chos truncados que distorcem o conteúdo e, não menos impor
tante, provocações irrespon
sáveis. E aí voltamos à questão da
leitura de livros. Se você, improvável leitor deste artigo, não for
um leitor de livros, eu sinto muito. Ainda é neles que está deposi-
tado grande parte do patrimônio cultural da humanidade.
Em livros estão registrados desde os textos sagrados das três
mais importantes religiões monoteístas do mundo até as reflexões
mais sofisticadas dos pensadores contemporâneos, passando por
todos os teóricos sociais, estudos de economia, avaliações históri-
cas das principais organizações sociais criadas pelo homo sapiens.
Há li
v ros para adultos e para crian
ças, para ler na praia, no
metrô, no escritório, na cama. E, se pensarmos em ficção, com
liv ros, a gente cria o personagem do nosso jeito, não fica sujeito
aos caprichos do diretor do filme, por isso melhor que ver um bom
filme é ler um bom livro.
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Jaime Pinsky