O imprevisível 2018 PD49 | Page 179

Onde estarão os leitores de livros? Jaime Pinsky A questão da leitura no Brasil é difícil de for­mular. Por um lado, envidam-se esforços no sentido de proporcionar acer- vos de livros adequa­dos para leitores em escolas e univer- sidades, centros de juventude, bibliotecas pú­blicas e particula- res. Por outro, treinam-se as novas gerações em mídias digi­tais, o que não seria proble­mático não fossem elas uti­lizadas quase que exclusi­vamente para mensagens e informações apressadas e superficiais, quando não levianas. Ao dar o mesmo valor a qualquer blogue do que se dá a uma fonte crite­r iosa, como um bom jornal, o leitor se torna vítima fácil de notícias plantadas, in­formações maliciosas ou simplesmente mau jornal­ismo. Todos nos tornamos médicos, advogados e his­to- riadores após uma rápida consulta ao que disse tia Cotinha no Facebook da fa­m ília ou no WhatsApp da turma da escola. Há professores que sim­ plesmente mandam pesqui­ sar “na internet”, como se tu­do o que se encontra na web tivesse equiva- lência. Nem damos bola para o fato de que a especialidade de tia Cotinha é uma deliciosa so­pa de legumes com ossobu­co e que o primo de Paragua­çu Paulista não se notabiliza pela capacidade de selecio­nar informações. Confunde­-se espaço democrático e di­reito de expressão com com­petência e divulgam-se as­neiras de todo tipo sob o argumento de que todos têm o direito de se expressar. A única ressalva é que direito de se expressar não po­de ser confundido – uma vez mais 177