Onde estarão os leitores de livros?
Jaime Pinsky
A
questão da leitura no Brasil é difícil de formular. Por um
lado, envidam-se esforços no sentido de proporcionar acer-
vos de livros adequados para leitores em escolas e univer-
sidades, centros de juventude, bibliotecas públicas e particula-
res. Por outro, treinam-se as novas gerações em mídias digitais,
o que não seria problemático não fossem elas utilizadas quase
que exclusivamente para mensagens e informações apressadas e
superficiais, quando não levianas.
Ao dar o mesmo valor a qualquer blogue do que se dá a uma
fonte criter iosa, como um bom jornal, o leitor se torna vítima fácil
de notícias plantadas, informações maliciosas ou simplesmente
mau jornalismo. Todos nos tornamos médicos, advogados e histo-
riadores após uma rápida consulta ao que disse tia Cotinha no
Facebook da fam ília ou no WhatsApp da turma da escola.
Há professores que sim
plesmente mandam pesqui
sar “na
internet”, como se tudo o que se encontra na web tivesse equiva-
lência. Nem damos bola para o fato de que a especialidade de tia
Cotinha é uma deliciosa sopa de legumes com ossobuco e que o
primo de Paraguaçu Paulista não se notabiliza pela capacidade de
selecionar informações.
Confunde-se espaço democrático e direito de expressão com
competência e divulgam-se asneiras de todo tipo sob o argumento
de que todos têm o direito de se expressar. A única ressalva é que
direito de se expressar não pode ser confundido – uma vez mais
177