por anos que o assunto “caia de podre” e que os soberanistas
catalães não consigam manter a tensão popular sobre a secessão.
O governo separatista de Junts pel Si e o CUP se dedicaram a
fantasiar sobre um processo no qual, uma vez concluído, todos
seriam beneficiados, sem nenhum custo. Para isso eles têm se
esforçado incansavelmente para transformar o assunto em um
problema internacional.
O governo irresponsável de Rajoy e do PP nunca pareceu preo-
cupado de que o apoio à soberania catalã tenha aumentado em
comparação com o que se viu em 2010, nem que a relação entre
unionistas e independentistas, com o passar do tempo, tenha se
inclinado cada vez mais em favor destes últimos. Em Madrid,
viveram convencidos de que é mais fácil manifestar-se festiva-
mente pela independência do que votar por ela – e se este for o
caso, o que eles julgam impossível – então o melhor é não fazer
nada. Em Barcelona, por
outro lado, além de não se preocuparem
com a polarização óbvia e crescente da sociedade catalã, os sepa-
ratistas não veem ou ouvem os sinais que recebem do exterior, de
que seu objetivo não pode ser abordado em violação da lei espa-
nhola. A resposta da Comissão de Veneza, órgão consultivo do
Conselho da Europa que se pronunciou sobre diferentes proces-
sos de referendo, foi conclusiva: qualquer referendo deve ser acor-
dado e realizado dentro da legalidade do Estado.
Pois bem, durante as últimas semanas, a situação só se
complicou. O Parlamento da Catalunha, fortemente controlado
pelos separatistas, começou a apertar a situação ao máximo e o
Estado respondeu com força. Diante de um referendo descafei-
nado, convocado para 01 de outubro, com ausência de regras
mínimas que deveriam homologar uma consulta confiável, forças
policiais e da Guarda Civil, sob as ordens do governo central,
reprimiram com extrema dureza, imprópria para uma democra-
cia madura, o que não era senão um dia de mobilização pacífica,
sem efeitos legais. Houve centenas de feridos e machucados devido
às brutais ações dos policiais contra as pessoas – jovens, adultos
e idosos –, que não fizeram nada além do que tentar depositar
seus votos nas urnas improvisadas pelo governo da Generalitat
Catalã, e foram tema central dos meios de comunicação mundiais,
diante do cenário de violência que se instalou. Com isso, o descré-
dito do governo Rajoy atingiu seu ponto mais agudo e a simpatia
da opinião pública internacional se deslocou para o movimento de
independência catalão.
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Joan Del Alcazar