O imprevisível 2018 PD49 | Page 162

evi­dente, nas escalas do presi­dente americano em Tó­quio, Seul e Pequim, as­sim como na reunião da Asean, no Vietnã. En­quanto Trump se entrin­ cheira no unilateralismo, expresso na fórmula America first (“A América em primeiro lu­gar”), Xi ocupa os vazios deixados pela superpotência vence­dora da Segunda Guerra e da Guerra Fria. E reivindica a liderança. Diplomacia do cofre Sintomático que, com meras 24 horas de intervalo, o gover­no de Washington tenha recorrido ao Departamento do Te­souro – e não ao de Estado, que conduz a diplomacia profissi­onal – para recalibrar a política externa em relação a dois ad­ versários no Hemisfério Americano. Coube ao secretário Ste­ven Mnuchin anun- ciar novas rodadas de sanções econômicas contra Cuba e Vene- zuela. Em especial no caso da ilha caribe­nha, a iniciativa ratifica a determinação anunciada por Trump de dar marcha à ré na reapro- ximação histórica iniciada há três anos por Barack Obama e Raúl Castro. Quanto ao nosso vizi­nho sul-americano, a Casa Branca reforça o engajamento ao lado da oposição contra o governo chavista, agora despido do carisma de seu fundador, Hugo Chávez. Em ambas as manobras, o alvo é o núcleo duro do bloco boli- variano que, na década passada, aglutinou a América Lati­na em torno de posições contrárias às de Washington – como na revoga- ção da resolução que suspendera Cuba da Organiza­ção dos Esta- dos Americanos. Superado o ciclo de esquerda na América do Sul, com as derrotas sofridas pelo petismo brasi­leiro e pelo kirchne- rismo argentino, Trump já “não vê proble­mas ao sul do Equador” – nas palavras de emissários do De­partamento de Estado. Não causa estranheza, nesse quadro, que negociadores de ambas as partes tratem de intensificar o ritmo das conversações para o sonhado acordo comercial entre União Europeia e Mer­co- sul, uma novela que se estende por quase duas décadas com­ple- tas. Brasília recebeu, no intervalo de apenas uma semana, uma dele­gação do Parlamento Europeu e o vice-presidente da Comis- são Europeia, braço executivo do bloco. Em comum, as margens di­agonais do Atlântico têm agora algo mais que o interesse em es­t abelecer uma área de livre comércio de dimensões compará­veis à da Parceria Transpacífica (TPP) – agora que Trump reti­rou dela a (ainda) maior economia do planeta. Trata-se, para ambos os 160 Silvio Queiroz