evidente, nas escalas do presidente americano em Tóquio, Seul e
Pequim, assim como na reunião da Asean, no Vietnã. Enquanto
Trump se entrin
cheira no unilateralismo, expresso na fórmula
America first (“A América em primeiro lugar”), Xi ocupa os vazios
deixados pela superpotência vencedora da Segunda Guerra e da
Guerra Fria. E reivindica a liderança.
Diplomacia do cofre
Sintomático que, com meras 24 horas de intervalo, o governo
de Washington tenha recorrido ao Departamento do Tesouro – e
não ao de Estado, que conduz a diplomacia profissional – para
recalibrar a política externa em relação a dois ad
versários no
Hemisfério Americano. Coube ao secretário Steven Mnuchin anun-
ciar novas rodadas de sanções econômicas contra Cuba e Vene-
zuela. Em especial no caso da ilha caribenha, a iniciativa ratifica a
determinação anunciada por Trump de dar marcha à ré na reapro-
ximação histórica iniciada há três anos por Barack Obama e Raúl
Castro. Quanto ao nosso vizinho sul-americano, a Casa Branca
reforça o engajamento ao lado da oposição contra o governo
chavista, agora despido do carisma de seu fundador, Hugo Chávez.
Em ambas as manobras, o alvo é o núcleo duro do bloco boli-
variano que, na década passada, aglutinou a América Latina em
torno de posições contrárias às de Washington – como na revoga-
ção da resolução que suspendera Cuba da Organização dos Esta-
dos Americanos. Superado o ciclo de esquerda na América do Sul,
com as derrotas sofridas pelo petismo brasileiro e pelo kirchne-
rismo argentino, Trump já “não vê problemas ao sul do Equador”
– nas palavras de emissários do Departamento de Estado.
Não causa estranheza, nesse quadro, que negociadores de
ambas as partes tratem de intensificar o ritmo das conversações
para o sonhado acordo comercial entre União Europeia e Merco-
sul, uma novela que se estende por quase duas décadas comple-
tas. Brasília recebeu, no intervalo de apenas uma semana, uma
delegação do Parlamento Europeu e o vice-presidente da Comis-
são Europeia, braço executivo do bloco. Em comum, as margens
diagonais do Atlântico têm agora algo mais que o interesse em
est abelecer uma área de livre comércio de dimensões comparáveis
à da Parceria Transpacífica (TPP) – agora que Trump retirou dela
a (ainda) maior economia do planeta. Trata-se, para ambos os
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Silvio Queiroz