A hegemonia civil, denominada posteriormente nos Quaderni
somente enquanto hegemonia, se insere como um conceito capaz
de compreender a formação e legitimidade do poder político diante
dessas transformações históricas. Diante disso, para Gramsci, se
trata de analisar como os diversos grupos sociais, fincados no
terreno produtivo, são capazes de elaborar e organizar a cultura
com vistas a construção do consenso.
Em intenso diálogo com o pensamento de Maquiavel, Gramsci
adensa sua concepção de hegemonia, demonstrando que esse
processo de universalização das culturas políticas é condicionado
por uma compreensão da política enquanto relações de forças
orientadas pela virtude dos atores em questão. Ao colocar a
virtude maquiaveliana no centro de sua concepção de política,
Gramsci constrói um princípio imanente e indeterminado da polí-
tica, de modo que os resultados dos conflitos inerentes às relações
de forças são condicionados pelas ações políticas.
Nesses termos, a construção da hegemonia se resolve através
da centralidade que a política ocupa no pensamento gramsciano.
É na política, compreendida enquanto síntese dialética indetermi-
nada de uma dada relação de forças correspondente a um deter-
minado período histórico, que ocorre o processo de elaboração da
hegemonia. Nesse sentido, a elaboração do consenso não se torna
um momento anterior ao assalto frontal do Estado, como sugere
Bianchi em sua aproximação com a revolução permanente, mas
um momento pelo qual as diversas forças políticas disputam as
subjetividades no interior da sociedade com vistas à sua univer-
salização a partir do Estado. Nessa perspectiva, o Estado, e sobre-
tudo a democracia, não emergem como força coe