O imprevisível 2018 PD49 | Page 132

A hegemonia civil, denominada posteriormente nos Quaderni somente enquanto hegemonia, se insere como um conceito capaz de compreender a formação e legitimidade do poder político diante dessas transformações históricas. Diante disso, para Gramsci, se trata de analisar como os diversos grupos sociais, fincados no terreno produtivo, são capazes de elaborar e organizar a cultura com vistas a construção do consenso. Em intenso diálogo com o pensamento de Maquiavel, Gramsci adensa sua concepção de hegemonia, demonstrando que esse processo de universalização das culturas políticas é condicionado por uma compreensão da política enquanto relações de forças orientadas pela virtude dos atores em questão. Ao colocar a virtude maquiaveliana no centro de sua concepção de política, Gramsci constrói um princípio imanente e indeterminado da polí- tica, de modo que os resultados dos conflitos inerentes às relações de forças são condicionados pelas ações políticas. Nesses termos, a construção da hegemonia se resolve através da centralidade que a política ocupa no pensamento gramsciano. É na política, compreendida enquanto síntese dialética indetermi- nada de uma dada relação de forças correspondente a um deter- minado período histórico, que ocorre o processo de elaboração da hegemonia. Nesse sentido, a elaboração do consenso não se torna um momento anterior ao assalto frontal do Estado, como sugere Bianchi em sua aproximação com a revolução permanente, mas um momento pelo qual as diversas forças políticas disputam as subjetividades no interior da sociedade com vistas à sua univer- salização a partir do Estado. Nessa perspectiva, o Estado, e sobre- tudo a democracia, não emergem como força coe