elaborada por Gramsci. Para demonstrá-lo, o autor marca a
complementaridade entre guerra de movimento e guerra de posi-
ção. Isso significa afirmar que a hegemonia não se comporta
enquanto detecção de um novo momento histórico, no qual a
constituição da política opera a partir dos consensos. Em sua
análise, coerção e consenso são compreendidos por Gramsci a
partir de um nexo indissociável, que se encontra intimamente
relacionado com a compreensão acerca do Estado e da sociedade
civil, de modo que a dimensão consensual é própria à sociedade,
enquanto o momento coercitivo se coloca no âmbito estatal.
Nesse sentido, a hegemonia, ao demonstrar os vínculos necessá-
rios entre guerra de movimento e guerra de posição, bem como
entre Estado e sociedade civil, se torna uma fórmula que reforça
a revolução permanente enquanto horizonte de expectativa
gramsciano, uma vez que o eixo do pensamento Gramsci figura,
nessa leitura, na tomada do Estado.
Diante disso, é preciso pensar uma interpretação em torno da
hegemonia gramscina que permita perceber a vitalidade e a hete-
rodoxia dos Quaderni del Carcere, demonstrando como tal catego-
ria ultrapassa em diversos sentidos os limites da tradição
marxista, de modo que Gramsci possa aparecer enquanto um
pensador fundamental à história e política contemporâneas. Para
tanto, é forçoso apontar que a discussão relativa à hegemonia não
é ontológica, tampouco um momento de uma teoria da revolução.
Isso ocorre porque as notas carcerárias se encontram fundamen-
tadas por um diagnóstico histórico que fixa uma transformação
morfológica da história e da política na transição do século 19
para o 20. Nessa transformação, as relações entre Estado e socie-
dade civil, marcadas pelo advento da modernidade, se alteram
decisivamente, gerando mudanças correspondentes nas formas
políticas e de transformação histórica.
Nessa nova formação política e histórica, as relações entre
Estado e sociedade civil se alteram decisivamente. Nas sociedades
de caráter Oriental, o Estado é mais forte e a sociedade civil é
gelatinosa, de modo que é constantemente invadida pela esfera
estatal, ao passo em que as de caráter Ocidental são marcadas
pelo fortalecimento da sociedade em relação ao Estado. Isso
implica que na modernidade Ocidental, as fórmulas revolucioná-
rias, cujos eixos giram em torno do assalto ao Estado, se tornam
anacrônicas, de modo que o centro das relações de forças próprias
à política são deslocadas para a sociedade civil.
A hegemonia enquanto consenso e conflito
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