O imprevisível 2018 PD49 | Page 124

toda a vida, com menor jornada no presente, em vez de um desgaste de um intenso trabalho anos a fio, na expectativa da aposentadoria quando, mesmo antecipando, o cidadão poderia estar com condições limitadas para aproveitar a vida. Na reali- dade, as novas tecnologias flexibilizam o trabalho e permitem organização sofisticada da informação e que esta escolha seja, inclusive individual, cada trabalhador fazendo o seu plano de vida com a distribuição dos tempos de trabalho e liberdade ao longo da vida, nas três formas de organização. Se um cidadão trabalhar 8 horas por dia em cinco dias da semana, ao longo de 30 anos de trabalho, terá dedicado 62.400 horas à produção. Reduzindo a jornada para 6 horas semanais, poderia ter o mesmo total ao longo da vida útil, trabalhando durante quarenta anos. Reduzindo para 20 horas semanais (4 horas por dia), poderia trabalhar 60 anos para realizar o mesmo total de 62.400 horas. Como a expectativa de vida está aumentando bastante, acompanhada da melhoria da qualidade de vida para os mais velhos, parece mais razoável trabalhar pouco e sempre do que trabalhar muito apenas durante a idade jovem e adulta, para uma duvidosa e, talvez, curta aposentadoria. Além disso, diluindo o tempo livre ao longo dos anos (em vez de concentrar depois da aposentadoria) o trabalhador chegaria à velhice com mais quali- dade de vida e saúde que garantiriam uma continuada vida ativa, com trabalho e ócio. Em resumo: para que se aposentar se é possí- vel trabalhar menos ao longo da vida, vivendo mais e melhor, “apro- veitando a vida” sempre e não apenas na velhice? A “quarta revolução industrial” acelera, contudo, duas outras grandes mudanças que permitem refinar alguns conceitos e hipóteses anteriores: em primeiro lugar, o trabalho não é mais e apenas carga e espaço da necessidade, como considerava o filó- sofo Karl Marx, e analisava Hannah Arendt. O trabalho tem sido, cada vez mais e em determinadas áreas, o terreno da cria- ção humana (“Werk” e não “Arbeit”, como diferencia Arendt 1 ) e mesmo continuando sendo diferente de “tempo livre” (o poder de decidir sobre o seu uso em atividades lúdicas, intelectuais e culturais, ou apenas ao ócio), é parte central da realização e reconh