O imprevisível 2018 PD49 | Page 114

As origens O conceito de economia criativa origina‐se do termo indústrias criativas, por sua vez inspirado no projeto Creative Nation, da Austrália, de 1994. Entre outros elementos, este defendia a impor- tância do trabalho criativo, sua contribuição para a economia do país e o papel das tecnologias como aliadas da política cultural, dando margem à posterior inserção de setores tecnológicos no rol das indústrias criativas. Em 1997, o governo do então recém‐eleito Tony Blair, diante de uma competição econômica global crescentemente acirrada, moti- vou a formação de uma força tarefa multissetorial encarregada de analisar as contas nacionais do Reino Unido, as tendências de mercado e as vantagens competitivas nacionais. O que se destaca, nessa iniciativa, é a) sua visão de parceria entre público e privado, de modo a desenhar um programa estra- tégico para o país, com benefícios e responsabilidades comparti- lhados; b) a articulação transversal, compreendendo de diferentes setores e pastas públicas, como cultura, desenvolvimento, turismo, educação, relações exteriores, entre outras. Nesse exercício, foram identificados 13 setores de maior potencial, então nomeadas indústrias criativas. A partir disso, o conceito britânico, incluindo as indústrias selecionadas, foi replicado para países tão diversos como Cingapura, Líbano e Colômbia, independentemente das distinções de seu contexto e sem contemplar de chofre o potencial que essas indústrias espe- cíficas teriam (ou não) para equalizar polarizações socioeconô- micas nos distintos países. Entretanto, o maior mérito do sucesso do programa britânico foi o de ter engendrado reflexões acerca de mudanças profundas e estruturais que se fazem necessárias no tecido socioeconômico global e nos embates culturais e políticos que ora enfrentamos. Não por menos a economia criativa tem suscitado discussões e estudos em áreas não puramente ligadas a uma política indus- trial ou econômica, mas tão vastas como atinentes à revisão do sistema educacional (questionando a adequação do perfil dos profissionais de hoje e anunciando a emergência de novas profis- sões), a novas propostas de requalificação urbana (gerando proje- tos de clusters criativos e o reposicionamento das chamadas cida- des criativas), à valoração do intangível cultural por parte de instituições financeiras (clamando por modelos de mensuração 112 Ana Carla Fonseca