O imprevisível 2018 PD49 | Page 112

Economia criativa , cidades e o futuro do trabalho
Ana Carla Fonseca

A economia , decididamente , não é mais como era antigamente . Em meio a tantas adjetivações que bus cam dar uma resposta a nosso de sencanto com modelos excludentes e in sustentáveis , uma delas chama a atenção : economia criativa . Para quem , nos últimos 20 anos , percorreu 180 cidades de 30 paí ses lidando com o tema , não há dúvida : a economia criativa é o modelo econômico dos nossos tempos .

Tempos marcados , como toda fase eco nômica de envergadura histórica , por uma revolução tecnológica . Foi assim com a re volução agrícola , com a industrial e , agora com a revolução das tecnologias digitais , que tantos impactos trouxeram às nossas vidas . Impactos sociais ( basta ver a avalan che de relacionamentos mediados pelo ce lular ) e até mesmo físicos , como demons tra a neuroplasticidade de cérebros cada vez mais multitarefas e capazes de gerar conexões improváveis , mas com dificulda de crescente de seguir raciocínios lineares e aprofundar debates .
Na economia , os impactos também são evidentes . As tecnologias digitais ca tapultaram a globalização a níveis jamais vistos . Produtos e serviços circulam em escala planetária e a uma velocidade inimaginável tempos atrás , fazendo com que o que hoje é lançado aqui ou acolá seja visível , quase de imediato , em outros cantos do mundo . Com isso , os produtos e serviços passaram a ter ci clos de vida cada vez mais curtos e a ser muito parecidos , em um processo de “ commoditização ” da economia .
A economia criativa atua na contramão deste processo . Ela professa que , quando ativos econômicos tradicionais – como capital e tecnologia – são tão facilmente transferíveis mundo afora , a criatividade se converte no ativo mais diferencial . Não por menos , economias de todos os perfis vêm reformulando suas estratégias econô micas , trazendo a economia criativa para seu centro .
Em Buenos Aires , onde os seto res criativos ( aqueles que têm na criativi dade seu diferencial – das artes e cultura à ciência e tecnologia ) representavam 9 % da população economicamente ativa e 10 % do PIB municipal , a meta é chegar a 20 % em ambos os indica-
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