O imprevisível 2018 PD49 | Page 70

A falência das nações
Monica De Bolle

O lastro de qualquer reforma é a credibilidade do governo que a propõe: a da Previdência está aí como exemplo. Por que alguns países são ricos e outros pobres? Por que alguns países são inicialmente mais ricos do que outros, mas, com o passar dos anos, tornam-se mais pobres? O que explica o crescimento econômico sustentável e a melhoria na qualidade de vida das sociedades?

Em 2012, os economistas Daron Acemoglu e James Robinson publicaram um livro extraordinário intitulado Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity and Poverty. Embora o tenha lido quando de seu lançamento, na época não soube apreciar adequadamente a relevância da obra para o Brasil. Ao relê-lo, vi retratadas em suas páginas todas as mazelas que nos afligem – da falência institucional à crise econômica, às inúmeras dificuldades de fazer reformas sem profunda mudança política.
O livro expõe com clareza – ilustrando em detalhe a experiência de diversos países – que é a natureza das instituições políticas que determina a distribuição de recursos, o crescimento, e o relativo“ sucesso” econômico das nações. De forma simplificada, países onde as instituições políticas são moldadas por grupos interessados em extrair recursos do Estado em vez de garantir o bem-estar da sociedade, instalam-se o caos, as crises, a pobreza, a corrupção.
Curiosamente, os autores dedicam parte de um capítulo ao Brasil – não como exemplo de nação“ falida”, mas como exemplo de superação: citam a mobilização social e a ascensão do PT ao poder em 2003, como exemplo de reconstrução das instituições brasileiras, tornando-as mais“ inclusivas”.
Passados os anos do lulopetismo, que jamais teria se consolidado sem a ajuda do que havia de mais status quo na política brasileira, sabemos que não houve revolução alguma. Os que ocuparam – e ainda ocupam – os mais altos escalões do poder, usaram e continuam a usar as instituições em benefício próprio. Sem que haja a desejada transformação política capaz de remode-
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