extremos, porque, para estes, elas de nada servem. Todavia, para a direita liberal brasileira, ou para a esquerda democrática, lembrar-se do processo que antecedeu e sucedeu ao golpe militar é de extrema atualidade.
Partidos e forças sociais e políticas que apoiaram o golpe militar e depois passaram a lhe fazer oposição, devem lembrar-se da evidência de que todas as ditaduras começam com promessas grandiosas e juras à democracia mas, via de regra, acabam com remessas volumosas de presos políticos com destino às masmorras e ao exílio, inclusive de apoiadores iniciais da implantação da ordem ditatorial. Líderes e aliados do movimento de 1964, como o marechal Castelo Branco, a Igreja Católica, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek foram, depois, isolados, perseguidos ou banidos do centro decisório da política pelas próprias forças que ajudaram a ascender ao poder.
No que tange à esquerda democrática, a experiência de não ter compreendido em toda a sua extensão o valor universal da democracia como elemento essencial para o avanço de suas plataformas de mudanças rumo a uma sociedade mais igualitária, custou-lhe algumas décadas de engessamento que agora, diante da crise de deslegitimação da esquerda como fruto das aventuras fisiológicas do PT e PSDB impõe certa impotência para que essa esquerda seja capaz de buscar as saídas e promover as articulações que impeçam o potencial destrutivo da polarização Lula / Bolsonaro nas próximas eleições.
Os que militam no arco da esquerda e do centro democráticos tiveram excelente oportunidade de reorientar a dinâmica perversa da política brasileira em termos políticos e ideológicos quando da ascensão do presidente Itamar Franco, cujo mérito foi oferecer à centro-esquerda brasileira uma oportunidade única para dar racionalidade histórica ao nosso xadrez político.
Aqui, por efeito de alguma síndrome Macunaíma, essa racionalidade histórica perdeu a oportunidade de existir quando o PT de Lula recusou-se, por uma obsessão hegemonista da política, a integrar o governo Itamar e, assim, selar uma aliança com o PSDB e outros partidos de esquerda que, ainda que passageira, arrumaria o xadrez político com aquela lógica que estabelece um mínimo de alinhamento entre política e ideologia no contexto de uma sociedade em movimento.
48 Anivaldo Miranda