O imprevisível 2018 PD49 | Page 45

Fato é que chegamos a esta crise sem precedentes – o que leva a população a condenar genericamente, não sem razão, a política e os políticos, mas sobretudo a esquerda, cujas ideias jamais foram implementadas por aqui. Eis o desafio de quem ainda busca vida inteligente na terra arrasada da democracia representativa brasileira, com algum viés esquerdista: a opção pela redução das desigualdades, pela justiça social, pela cidadania plena, pela distribuição de renda, pela promoção da cultura da paz, pelo papel regulador do Estado e até pela manutenção da utopia – características que em geral a direita despreza. É neste contexto, por exemplo, que o filósofo Ruy Fausto apre- senta o livro Caminhos da esquerda – que a grande imprensa tem debatido – e que outros grupos vêm se reunindo para tentar ir além do debate político partidarizado, polarizado, raivoso e esté- ril, dispostos a encontrar alguma luz no fim do túnel para trans- portar os ideólogos da esquerda democrática da atual arena visce- ral para um campo vicejante. Se é desalentador um cenário em que as primeiras sondagens para 2018 apontem a força crescente de um Bolsonaro à direita ou a teimosa e renitente popularidade de Lula quase como um novo Macunaíma, o herói sem caráter da esquerda preguiçosa, também é verdade que chegou o momento de agir com firmeza e efetividade para construir uma alternativa melhor. A luz que o eleitorado busca não pode ser, à esquerda, o fogo- fátuo da decomposição petista, nem o farol da direita bolsonarista que se apresenta como trem-bala mas não passa de maria-fumaça. Para repor a esquerda nos trilhos, também parece pouco adequado depositar esperanças nos maquinistas de trem fantasma Guilherme Boulos e Ciro Gomes, que se lançam com ações e pensamentos descarrilados. Exercícios de futurologia à parte, o mais provável é que o próximo eleito seja um nome do atual sistema – até porque a necessária reforma político-partidária não avançou muito além dos limites protecionistas e do instinto de sobrevivência dos atuais congressistas. Alguém tarimbado e de perfil mais próximo do centro, evitando as saídas mais extremistas, é o que se busca na maioria dos partidos. A centro-direita busca uma peça confiável na plataforma mais tradicional (Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia ou Henrique Meirel- les, por exemplo) ou reconfigurada (João Doria). A centro-es- Na política muda-se tudo para não mudar nada! 43