Fato é que chegamos a esta crise sem precedentes – o que leva
a população a condenar genericamente, não sem razão, a política
e os políticos, mas sobretudo a esquerda, cujas ideias jamais
foram implementadas por aqui. Eis o desafio de quem ainda busca
vida inteligente na terra arrasada da democracia representativa
brasileira, com algum viés esquerdista: a opção pela redução das
desigualdades, pela justiça social, pela cidadania plena, pela
distribuição de renda, pela promoção da cultura da paz, pelo
papel regulador do Estado e até pela manutenção da utopia –
características que em geral a direita despreza.
É neste contexto, por exemplo, que o filósofo Ruy Fausto apre-
senta o livro Caminhos da esquerda – que a grande imprensa tem
debatido – e que outros grupos vêm se reunindo para tentar ir
além do debate político partidarizado, polarizado, raivoso e esté-
ril, dispostos a encontrar alguma luz no fim do túnel para trans-
portar os ideólogos da esquerda democrática da atual arena visce-
ral para um campo vicejante.
Se é desalentador um cenário em que as primeiras sondagens
para 2018 apontem a força crescente de um Bolsonaro à direita ou
a teimosa e renitente popularidade de Lula quase como um novo
Macunaíma, o herói sem caráter da esquerda preguiçosa, também
é verdade que chegou o momento de agir com firmeza e efetividade
para construir uma alternativa melhor.
A luz que o eleitorado busca não pode ser, à esquerda, o fogo-
fátuo da decomposição petista, nem o farol da direita bolsonarista
que se apresenta como trem-bala mas não passa de maria-fumaça.
Para repor a esquerda nos trilhos, também parece pouco adequado
depositar esperanças nos maquinistas de trem fantasma
Guilherme Boulos e Ciro Gomes, que se lançam com ações e
pensamentos descarrilados.
Exercícios de futurologia à parte, o mais provável é que o
próximo eleito seja um nome do atual sistema – até porque a
necessária reforma político-partidária não avançou muito além
dos limites protecionistas e do instinto de sobrevivência dos atuais
congressistas. Alguém tarimbado e de perfil mais próximo do
centro, evitando as saídas mais extremistas, é o que se busca na
maioria dos partidos.
A centro-direita busca uma peça confiável na plataforma mais
tradicional (Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia ou Henrique Meirel-
les, por exemplo) ou reconfigurada (João Doria). A centro-es-
Na política muda-se tudo para não mudar nada!
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