na competição política nem se oferecem ideias e propostas subs-
tantivas claras aos cidadãos.
A democracia alimenta-se do conflito. Polarizações não
somente são inevitáveis, como ajudam a manter a temperatura
política no limite do suportável e a explicitar diferenças que
pulsam no terreno social.
Acontece que uma multiplicidade de polos não é uma virtude.
Pode mesmo funcionar para impedir a plena manifestação dos
polos “verdadeiros”, aqueles que carregam no ventre os interesses
fundamentais da sociedade, as contradições principais. Divisões
artificiais e pouca disposição para o diálogo terminam por criar
campos ideológicos antípodas, soltos no ar, sem pé na realidade.
Parte-se da ideia de que a sociedade é mais dividida do que se vê,
e com isso criam-se divisões por sobre divisões. A intolerância
cresce, as tensões tornam-se insuperáveis e provocam rupturas.
Esfuma-se assim o que poderia haver de virtude nas polariza-
ções. O antagonismo criador esfria, sendo substituído por atritos
sem perspectiva de consenso.
O Brasil dos últimos anos esteve condicionado pela polariza-
ção PT vs. PSDB. Tamanha foi sua força que a sociedade se deixou
encantar com o que se anunciou como sendo duas matrizes de
governança e de projeto nacional. Nem petistas, nem tucanos,
porém, conseguiram se firmar como forças dotadas de densidade
programática e vocação hegemônica. Foram se desconstruindo ao
longo do tempo, e chegaram hoje ao ponto mais baixo de sua
trajetória. A sociedade, por sua vez, foi-se saturando com a reite-
ração daquela polarização, roubando-lhe chances de reposição.
Polarizações podem funcionar como fatores de organização, nos
quais o antagonismo qualifica o quadro geral. Nem sempre os polos
estão fechados para entendimentos e composições. Podem conviver
no interior de polos maiores e convergir para um patamar comum.
É o segredo da unidade democrática, que é feita de soldagens dialó-
gicas, e não impositivas, entre correntes distintas.
A política sofre quando não dispõe de patamares unificadores,
que possibilitem o diálogo entre campos distintos. Afasta-se dos
cidadãos, assiste à apresentação de propostas diversionistas e ao
surgimento de candidaturas voluntaristas ou regressistas.
No Brasil atual, as forças democráticas enfrentam dificuldades
para romper os círculos que estreitam sua movimentação e impe-
dem sua reposição vigorosa na cena nacional. Precisam recusar o
O centro, a esquerda democrática e o novo como fetiche
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