Croce, rebatizado de Concepção dialética da história, Os intelec-
tuais e a organização da cultura, Literatura e vida nacional,
Maquiavel, a política e o estado moderno), além da seleção das
Cartas a cargo de Noênio. Outros nomes da nossa área se mobili-
zaram, como Luiz Mário Gazzaneo e Leandro Konder. Um pouco
antes, o próprio Gazzaneo e Dalton Boechat haviam traduzido o
pequeno livro de Togliatti sobre O caminho italiano para o socia-
lismo, pela mesma Civilização.
Tudo isso significava uma busca de alternativa à ortodoxia
soviética. Havia gente que se mexia, que se inquietava, que
buscava inspiração no “diálogo” com os católicos, à maneira dos
franceses (como Garaudy), mas principalmente à maneira dos
italianos. Evidentemente, a partir do próprio nome a Editora Paz
e Terra, coligada à Civilização, carregava esta inspiração ecumê-
nica. Leandro Konder se notabilizou muito nesta frente, assim
como o dirigente do PCB Luiz Inácio Maranhão, morto na onda
repressiva de 1975. Luiz Inácio, um riograndense do norte de
fibra, provinha de outra geração, mas tinha no código genético a
ideia do diálogo, que ele exerceu na prática inclusive com a alta
hierarquia católica, a começar por D. Paulo Evaristo e por seu
conterrâneo, D. Eugênio Sales.
Para entender esta recepção inicial de Gramsci (deixando de
lado tentativas esparsas anteriores), é interessante ver um artigo
de um importantíssimo intelectual de língua alemã enraizado no
Brasil desde o segundo pós-guerra. Trata-se de Otto Maria
Carpeaux, um erudito formidável, dono de notável saber literário e
musical. Carpeaux escreveu um artigo sobre “A vida de Gramsci”,
publicado na Revista Civilização Brasileira em 1966. 4 Este artigo
apresenta sucintamente os livros “temáticos”, destaca a repressão
fascista e a ideia de “calar por vinte anos o cérebro” do líder comu-
nista, sublinha a densidade intelectual do grupo dirigente do PCI,
assinala semelhanças entre Brasil e Itália, entre o Nordeste brasi-
leiro e o Sul italiano. A meu ver, um artigo como o de Carpeaux é
emblemático desta recepção de Gramsci naqueles anos.
A edição Spínola apresenta Gramsci e sua obra, parece-me,
sobretudo como um testemunho da crueldade do fascismo contra
seus opositores, em particular da área comunista. Pode-se susten-
tar que a edição de 2005 das Cartas, dados os elementos paratex-
4 O artigo de O. M. Carpeaux está disponível em: .
Uma busca de alternativa à ortodoxia soviética
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