Mesmo na prisão, Gramsci continuou sendo um homem de
ação. Tudo o que escreveu, das reflexões anotadas nos cadernos à
correspondência com familiares e amigos, indica que ele perma-
neceu atuando como um dirigente político. Nessa condição, procu-
rou fazer chegar à direção do Partido Comunista Italiano (PCI)
suas avaliações do cenário italiano e mundial, bem como seus
questionamentos a respeito de algumas orientações do PCI que
lhe pareciam equivocadas. É desse comprometimento que emer-
gem os termos de uma “teoria nova”, hoje reconhecida no mundo
da política e dos intelectuais.
Nos Cadernos do cárcere foi se sedimentando um novo pensa-
mento, com o qual Gramsci imaginava poder mudar as orientações
do movimento comunista. Do texto de Gramsci se pode apreender
uma superação clara do bolchevismo, notadamente em relação à
concepção do Estado, à análise da situação mundial, à teoria das
crises e à doutrina da guerra como parte intrínseca da revolução.
Não foi por acaso que dessas reflexões emergiu a proposta de
luta pela convocação de uma Assembleia Constituinte. Isso
implicava deslocar o PCI da preparação da revolução proletária
para a conquista da Constituinte. Em outras palavras, estrategi-
camente a luta pela democracia deixava de ser pensada apenas
como fase de transição para o socialismo e assumia autonomia
plena. No mundo do comunismo da década de 1930 tratava-se de
um ato de ruptura. Assim, o ponto de chegada dos Cadernos foi
a elaboração de uma nova visão da política como luta pela hege-
monia, o que, em termos objetivos, representaria a adoção de um
programa reformista de combate ao fascismo e, com ele, a recons-
trução da nação italiana.
Essa nova teoria, dramaticamente elaborada no interior das
prisões fascistas, resultava do enfrentamento dos impasses que o
atormentavam como dirigente político: a derrota para o fascismo
e a perda de propulsão do movimento comunista soviético,
bloqueado pelo “estatalismo” e pelo autoritarismo. Os conceitos de
Gramsci, tais como “hegemonia”, “guerra de posições”, “revolução
passiva”, “transformismo” e “americanismo”, entre outros, eviden-
ciam uma linguagem própria, não mais bolchevique ou leninista,
de quem, mesmo na prisão, pensava de maneira inovadora os
desafios que estavam postos diante da construção política da
modernidade no Ocidente.
Em meio às lutas pela democracia, diversas gerações de inte-
lectuais brasileiros que se aproximaram do pensamento de
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Alberto Aggio