O imprevisível 2018 PD49 | Page 129

A hegemonia enquanto consenso e conflito Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira O conceito de hegemonia, como aponta Giuseppe Vacca (2016), é central ao desenvolvimento dos Quaderni del Carcere. Essa centralidade se deve ao potencial heurístico do conceito que, diversamente da formulação lenineana original, perde seus vínculos classistas, ampliando-se em torno da compre- ensão da legitimidade do poder a partir das relações de força próprias à política. Nessa perspectiva, a hegemonia se constitui no momento em que uma determinada força formula uma dada cultura política capaz de se universalizar por meio da criação de uma vontade coletiva. Diante disso, o presente trabalho procura pensar, em diálogo com as interpretações brasileiras de Gramsci, marcadamente as de Coutinho (2003, 2011) e Bianchi (2008), que a construção da hegemonia significa a instituição permanente dos conflitos políticos, operada no interior de um amplo consenso democrático responsável por garantir as possibilidades de expres- são e universalização dos subalternos. As discussões de Coutinho são fundamentais à cultura brasi- leira. Além de um dos tradutores da obra gramsciana para o Brasil, Coutinho foi também um dos responsáveis pelas primeiras leituras e interpretações da realidade brasileira sob o prisma dos conceitos produzidos pelo intelectual sardo. Ao longo dos anos 1990, Coutinho produziu diversos ensaios sobre filosofia política animados pela intenção de “oferecer um conceito substantivo de democracia que vá além das atuais teorias minimalistas segundo as quais a democracia é apenas uma mera regra do jogo” (COUTI- 127