A hegemonia enquanto
consenso e conflito
Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira
O
conceito de hegemonia, como aponta Giuseppe Vacca
(2016), é central ao desenvolvimento dos Quaderni del
Carcere. Essa centralidade se deve ao potencial heurístico
do conceito que, diversamente da formulação lenineana original,
perde seus vínculos classistas, ampliando-se em torno da compre-
ensão da legitimidade do poder a partir das relações de força
próprias à política. Nessa perspectiva, a hegemonia se constitui
no momento em que uma determinada força formula uma dada
cultura política capaz de se universalizar por meio da criação de
uma vontade coletiva. Diante disso, o presente trabalho procura
pensar, em diálogo com as interpretações brasileiras de Gramsci,
marcadamente as de Coutinho (2003, 2011) e Bianchi (2008), que
a construção da hegemonia significa a instituição permanente
dos conflitos políticos, operada no interior de um amplo consenso
democrático responsável por garantir as possibilidades de expres-
são e universalização dos subalternos.
As discussões de Coutinho são fundamentais à cultura brasi-
leira. Além de um dos tradutores da obra gramsciana para o
Brasil, Coutinho foi também um dos responsáveis pelas primeiras
leituras e interpretações da realidade brasileira sob o prisma dos
conceitos produzidos pelo intelectual sardo. Ao longo dos anos
1990, Coutinho produziu diversos ensaios sobre filosofia política
animados pela intenção de “oferecer um conceito substantivo de
democracia que vá além das atuais teorias minimalistas segundo
as quais a democracia é apenas uma mera regra do jogo” (COUTI-
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