Prezados amigos e confrades
Ao ler a revista “ÉPOCA”, nº779, de 29 Abr 2013 (p. 11), tive o desprazer de me deparar com a reportagem: “Uma oportunidade para curar as feridas no Paraguai”. Em 2010 já havia tido a insatisfação de ler no jornal “O Globo”, que o ex- Presidente da República estava com a intenção de devolver ao devolver ao Paraguai, o canhão Cristiano trazido para o Brasil, ao término da Guerra da Tríplice Aliança. No seu entender, um gesto de amabilidade para com o país vizinho.
Em conseqüência escrevi duas cartas àquele jornal sem resultado algum. Elas nem sequer foram publicadas. Felizmente, brasileiros de verdade fizeram a divulgação. Até o “ABC Color”, jornal paraguaio comentou na sua primeira página,
Tomei conhecimento pela imprensa que a Diretora do Museu Nacional, onde se encontra o canhão, protestou, em uma entrevista. Soube também que o presidente do IHGB, Prof. Arno havia se manifestado contrário a devolução.
A situação é critica. O Brasil já perdoou a indenização de guerra e já devolveu um sabre. Já se construiu a Ponte da Amizade e foi dada permissão para o uso do Porto de Paranaguá, pelo Paraguai. Amanhã vão querer um pedaço de Mato Grosso do Sul ou a Hidrelétrica de Itaipu. Esse canhão está tombado como troféu de guerra.
Hoje corremos o risco de vermos os troféus da FEB serem devolvidos à Alemanha. Presidente da República não é o dono do patrimônio nacional. Hoje vai o canhão, amanhã a estátua do Gen Osório (de bronze dos canhões paraguaios) ou quem sabe El Guairá, região das Missões no oeste do Paraná.
O Cristiano pode ser simbólico para os paraguaios, com o é para nós brasileiros em homenagem aqueles soldados que morreram em Curupaiti. De um canhão que há dúvidas quanto o seu poder de fogo. Efetivamente foi a maior vitória paraguaia. E única naquela Guerra.
O reporte fala no Mercosul, mas esse é um outro problema. Nele, o Paraguai estaria sendo injustiçado pelo governo brasileiro para agradar a agenda Chavista. Mas não lembra a construção da Ponte da Amizade que serve de caminho do contrabando paraguaio para o Brasil, ou do Porto Livre de Paranaguá usado pelos paraguaios. Nada tenho contra o povo daquele país, pelo contrário. Lá vivi 2 anos e 3 meses como membro da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai. Minha esposa trabalhou no Hospital de Clinicas, como médica (não remunerada), aceitando um convite do Diretor do Hospital.
Vejo com bons olhos qualquer ajuda que se possa dar ao Paraguai. É um país irmão. Nós sulistas somos também guaranis. Mas não podemos entregar um troféu de guerra que custou o sangue de muitos brasileiros. Acima dos meus amigos paraguaios, acima da República do Paraguai, está o nosso Brasil, o nosso Exército.
O Clube Militar, a Casa da República de onde o Mal Deodoro da Fonseca soube defender os interesses Nacionais e Militares. Dentre os troféus de guerra que o Paraguai mantém, em “Vapor Cuê” está um navio brasileiro (Taquari). Poderíamos pedir que nos devolvam.
Devolvido esse canhão o que poderemos dizer, mesmo que seja em pensamento, àqueles que deram o seu sangue pelo País e que lá deixaram os seus corpos inertes. Que lá cumpriram o seu dever de soldado.
O problema político do Paraguai é um problema do povo paraguaio. Não temos que nos meter. Mas não podemos nos esquecer dos brasilguaios que estão sendo espoliados.
Os nossos interesses com o Paraguai devem ser os melhores. Mas não a ponto de esquecer os que tombaram ao defender as nossas fronteiras de Mato Grosso; das nossas cidades gaúchas de São Borja, Itaquei e Uruguaiana, que foram saqueadas e suas mulheres estupradas. Assim como os soldados do Regimento de Cavalaria de Uruguaiana, que foram assassinados após se renderem. Os passageiros do navio brasileiro Marquês de Olinda, que foram aprisionados e vieram morrer nos campos de concentração de Solano López.
Recomendaria ao repórter mais leitura sobre o assunto, de historiadores brasileiros, paraguaios, argentinos, paraguaios, ingleses, americanos, etc., como Masterman, Thompson, Francisco Resquin, Arturo Bray, Francisco Doratioto, Efrain Cardoso, Tasso Fragoso e outros tantos. Sejam eles brasileiros, paraguaios, argentinos, uruguaios e outros mais.
Aos prezados confrades e aos nossos amigos clamo pelos seus apoios. Seja no IHGB Clube Militar, seja no IGHMB, ou mesmo com a sua ajuda pessoal.
A devolução será uma traição aos nossos mortos em combate, aos assassinados e as estupradas.
Gen Aureliano Pinto de Moura, Presidente do Instituto de Geografia e História Militar, Presidente da Comissão Brasileira de História Militar.
O Canhão Cristiano é nosso: a palavra do Presidente do IGHMB
Gen Div Aureliano Pinto de Moura
Gen Div A
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