Ano XV | Edição 35 | 41
A Lei e a Ordem na formação do homem justo e perfeito
Q
uais são os maiores inimigos da
humanidade? Pergunta esta que
se encontra em nossos rituais e
obtemos como resposta uma maldita tri-
plicidade: A hipocrisia, a tirania e a igno-
rância. Aqui encontramos um importante
princípio hermético. Diz-nos o ritual ma-
çônico que, para as combatermos, deve-
mos estar aprendendo e ensinando.
Em se tratando da tirania, ela acontece
quando deixamos de submeter nossas von-
tades e dominar nossas paixões. Muito se
fala em nossa época em possuir identidade
pessoal, o que pode nos levar a um dilema
nesta afirmação. Como poderíamos deixar
de observar o que nos disse o divino Mestre
em Mateus 5:17-18, “Não penseis que vim
revogar a Lei ou os Profetas, não vim para re-
vogar, vim para cumprir. Porque em verdade
vos digo, até que o céu e a terra passem, nem
um “i” ou um “ti”l jamais passará da Lei, até
que tudo se cumpra.”
Cumprir a lei não é uma condição de
rebaixamento de nosso ser, antes, é uma
condição de humildade necessária ao em-
prego da força, pois consta em Marcos 9,
33-35 “Chegaram a Cafarnaum. em casa,
Jesus lhes perguntou: “O que era que discu-
tíeis no caminho?” Eles se calaram porque
no caminho tinham discutido quem seria
o maior. Então Jesus sentou-se, chamou os
Doze e lhes disse: “Se alguém quer ser o pri-
meiro, seja o último e o servo de todos”.
Está em nossos juramentos maçôni-
cos cumprir e fazer cumprir nossas leis
e regulamentos. Quando por hipocrisia
aquele que conscientemente as quebra a
seu bel-prazer, comete um ato de tirania.
Na ignorância pode existir uma forma de
tirania, pois aquele que não multiplica os
seus talentos pode querer se valer de ou-
tros para poder suprir aquilo que deveria
ter feito.
Talvez a tirania seja realmente como
afirmam os filósofos e sábios, a arma dos
fracos, impotentes e invejosos. As formas
de manipulação vão desde a não submis-
são da vontade pessoal em detrimento da
necessidade do grupo, megalomania dis-
farçada de falsa humildade, crença de que
ao se estar no poder o fazemos por direito
divino, de que somos o próprio sol, e não
criaturas que apenas possuem limitada luz.
Este foi o erro de Ninrode. Via de regra
o tirano necessita contestar qualquer ideia
que não seja a sua para se afirmar e se de-
leitar com a situação do exercício pleno do
poder. Contrário ao que pregou o mestre
Jesus, o ti rano precisa ser servido, ter seu
ego inflado, pois contrariado deixará a fal-
sa humildade de lado e usará de seu poder
e status para esmagar ao que ele julga que
possa sobrepujá-lo.
Como nos diz Oscar Wilde “a pior for-
ma de tirania que o mundo sempre viu é a
tirania do fraco sobre o forte”. “Esta é a úni-
ca forma de tirania que dura” “A cada bela
impressão que causamos, conquistamos um
inimigo. Para ser popular é indispensável ser
medíocre”, ou seja, quando o ego do tira-
no não se nutre pela bajulação, a estimula
nos demais pela constante demonstração
de força, velada ou ostensiva.
A hipocrisia varia desde o “jeitinho
brasileiro”, até o desamor ou descrença na
prática do bem para tentarmos alcançar as
benesses, louros e glórias pegando atalhos
escusos. Cita o livro do Apocalipse 3,15
“sejas quente ou frio, os mornos vomitarei de
minha boca”.
Ao cumprirmos as leis revelamos nosso
caráter. Contestamos a legitimidade e uti-
lidade destas, propondo mudanças ou as
cumprimos integralmente, sem ressalvas ou
restrições mentais, tal qual nosso juramento
no primeiro grau de nossa ordem.
Muitos crimes são cometidos até os nos-
sos dias em nome de Deus. Há, das cruza-
das, muitas fontes Históricas das maiores
atrocidades cometidas por ganância e poder
(status, prestígio e bens materiais) invocan-
do um Deus totalmente contrário ao prega-
do pelo Mestre Jesus.
Em nome de Deus, impérios foram
forjados no fogo da perdição e tempera-
dos no sangue dos inocentes, verdadeiras
espadas de flagelo. Talvez até mesmo no
seio de nossa Ordem utilizemos subter-
fúgios para nos furtarmos de nossas res-
ponsabilidades no burilar da pedra bruta,
invocando erroneamente o sagrado dever
para com a família, a fidelidade para com
nossas “Leis” (muitas vezes traduzidas
por questões partidárias), a orientação de
Fulano ou Cicrano, ou outras tantas des-
cabidas tolices. O fato é que nossa alma
habita em um templo interior, que só na
individualidade podemos edificar, como
um forno no qual arde a chama Sagrada,
o receptáculo da grandeza do Universo.
Nascemos em nudez e solidão, e assim nos
apresentaremos ante nossa Consciência
sem a chance de justificarmos nada, pois
nascemos, num grau ínfimo, com a pró-
pria consciência de Deus, de quem somos
imagem e semelhança.
Respondemos pelos atos da coletivi-
dade, sim, mas não nos esqueçamos que
tudo na vida é fruto de nossas escolhas
e principalmente de nossas prioridades,
podemos a qualquer momento alterar
nossas vias ou a direção de nossas mar-
chas. Alerto que a leitura deste retrato da
sociedade, de vários de nossos represen-
tantes em todas as esferas, pode ser um
pouco entristecedora, mas certamente
nos fará cogitar muitos dogmas e credos
que carregamos até hoje, dentro ou fora
de nossa Ordem.
Quiçá realmente seja melhor sofrermos
uma injustiça ou opressão a cometermos
uma, pois a lei do retorno mostra, mormen-
te, que os que escolheram usar o desamor e
covardia, são geralmente os que não supor-
tam a dor e responsabilidade dos fardos que
lhe são atraídos.
Exercemos a tirania ao fugirmos do au-
toconhecimento, ao deixarmos de ouvir a
tudo e a todos, ao tentarmos resolver pro-
blemas por ordens e imposições infundadas,
tal como um encantamento mágico, preten-
siosamente infalível.
A humildade consiste na verdade, e ao
querermos impor nossa própria verdade é
como querer navegar num mar sem ondas
e sem brisas.
O amargo da taça contém em si todos
os sabores.
“Antes de sair em busca de vingança,
cave duas covas”.
Confúcio
Fraternalmente
I.'. Fabio Costa Medeiros
Curitiba - PR
“Não há necessidade de templos, não há necessidade de
filosofias complicadas.Seu cérebro e seu coração são seus templos;
e tenha como filosofia, sua bondade” (Dalai Lama)