O Boêmio edição de O Boêmio 306 | Page 2

A PRECE DA ÁRVORE MONOTONIA Ser humano, Protege-me! Junto ao puro ar Da manhã ao crepúsculo, Eu te ofereço Aroma, flores, frutos e sombra! Se ainda assim não te bastar, Curvo-me e te dou: Tarde de sábado, calor e mormaço O vento ruidoso deixa a terra seca E balança as cortinas que parecem vivas. Escutando o vendedor de ovos e melancia Em seu fanhoso megafone, surdo aos apelos Da decaída civilização ocidental. Proteção para teu ouro, Pinho para tua nota, Teto para teu abrigo, Lenha para teu calor, Mesa para teu pão, Leito para teu repouso, Apoio para teus passos, Bálsamo para tua dor, Altar para tua oração E te acompanharei até a morte... Rogo-te: não me maltrates! Os filhos cresceram, agora crescem os netos. Outras histórias se repetem. Se minha face Muda ao espelho, também evoluo em meu interior. Motocicletas riscam o asfalto agressivas. A geladeira teima em parti cipar desta ladainha. Pássaros cantam livres a cantiga da vida Que se renova a cada manhã. "A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas." Rudolf Steiner Somos o que sobrou neste final de feira Tomates podres, laranjas azedas, bananas Amassadas, esperando a vinda dos garis E dos famintos sem valia. Aquilo que é verdadeiro resiste em meu coração. A esperança é um cavalo manco que segue o seu caminho. O dia passa tão rápido quanto uma existência. Assine breve florescer de uma erva selvagem WALTER ROSSI / São Paulo (SP) Um É maior que a maior das conquistas humanas. O Boêmio! Longe daqui, amigos tornam-se respeitosos desconhecidos. Se ontem possuía todas as certezas, Que posso afirmar agora? 7 HAICAIS DE Vive o instante, que ele te redimirá. EDUARDO WAACK CRIANÇA Economize água! Pães caseiros, bolos, doces e salgados folhados, massas para pizza. A Padaria da Vila Pereira Ÿ Em frente à Praça Fone 3382-1070 UNIVERSO INFORMÁTICA Fone 3384-5826 Centro de Formação de Condutores DESPACHANTE POLICIAL Osmar Jardim Av. 15 de Novembro, 303 Centro / Fone 3382-1903 HUMBERTO DEL MAESTRO Cartão de Natal, entre mil papéis antigos... — Lágrimas nos olhos. Quisera Deus fosse o homem sempre criança, mesmo que fosse J irracional, ela que encerra Noite interminável o mel do lar, doce lar; com solos de violino. a inocência da marionete; ...pernilongo às soltas. a inquietude do impaciente; J a alegria que faz cantar; Cartas escondidas; a meiguice da lua cheia; um velho amor do passado... a razão do bem-querer; — Traça acabando. a graça que abençoa; J a beleza do arco-íris; Canário fogoso, a ternura do amor puro; uma arapuca sem pressa... a paz do anjo bom; Silêncio na mata. a força do mar bravio; J a felicidade que desejamos; Ventania forte. a bondade que o adulto não tem; Casais de pombos passeiam, a vontade de ser gente. brincando na praça. Quisera Deus fossem as crianças J Abro o velho livro. todas lindas e brilhantes, A folha seca, entre as páginas, como a Estrela d'Alva apenas sugere. no firmamento. J Quisera Deus fossem todas Há pouco chovia. perfeitas e cheias de vida, Agora apenas o vento como a flor viçosa, inda botão. É dono da rua. Quisera Deus fossem todas indiferentes à dor, à injustiça, ao mal, como os rochedos ao vendaval. Ainda assim, seja criança, homem! ARLINDO NÓBREGA São Paulo (SP)