A PRECE DA ÁRVORE
MONOTONIA
Ser humano,
Protege-me!
Junto ao puro ar
Da manhã ao crepúsculo,
Eu te ofereço
Aroma, flores, frutos e sombra!
Se ainda assim não te bastar,
Curvo-me e te dou:
Tarde de sábado, calor e mormaço
O vento ruidoso deixa a terra seca
E balança as cortinas que parecem vivas.
Escutando o vendedor de ovos e melancia
Em seu fanhoso megafone, surdo aos apelos
Da decaída civilização ocidental.
Proteção para teu ouro,
Pinho para tua nota,
Teto para teu abrigo,
Lenha para teu calor,
Mesa para teu pão,
Leito para teu repouso,
Apoio para teus passos,
Bálsamo para tua dor,
Altar para tua oração
E te acompanharei até a morte...
Rogo-te: não me maltrates!
Os filhos cresceram, agora crescem os netos.
Outras histórias se repetem. Se minha face
Muda ao espelho, também evoluo em meu interior.
Motocicletas riscam o asfalto agressivas.
A geladeira teima em parti cipar desta ladainha.
Pássaros cantam livres a cantiga da vida
Que se renova a cada manhã.
"A nossa mais
elevada tarefa
deve ser a de
formar seres
humanos livres
que sejam
capazes de,
por si mesmos,
encontrar
propósito
e direção para
suas vidas."
Rudolf Steiner
Somos o que sobrou neste final de feira
Tomates podres, laranjas azedas, bananas
Amassadas, esperando a vinda dos garis
E dos famintos sem valia.
Aquilo que é verdadeiro resiste em meu coração.
A esperança é um cavalo manco que segue o seu caminho.
O dia passa tão rápido quanto uma existência.
Assine
breve florescer de uma erva selvagem
WALTER ROSSI / São Paulo (SP) Um
É maior que a maior das conquistas humanas.
O Boêmio!
Longe daqui, amigos tornam-se respeitosos desconhecidos.
Se ontem possuía todas as certezas,
Que posso afirmar agora?
7 HAICAIS DE
Vive o instante, que ele te redimirá.
EDUARDO WAACK
CRIANÇA
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HUMBERTO
DEL MAESTRO
Cartão de Natal,
entre mil papéis antigos...
— Lágrimas nos olhos.
Quisera Deus fosse o homem
sempre criança, mesmo que fosse
J
irracional, ela que encerra
Noite interminável
o mel do lar, doce lar;
com solos de violino.
a inocência da marionete;
...pernilongo às soltas.
a inquietude do impaciente;
J
a alegria que faz cantar;
Cartas escondidas;
a meiguice da lua cheia;
um velho amor do passado...
a razão do bem-querer;
— Traça acabando.
a graça que abençoa;
J
a beleza do arco-íris;
Canário fogoso,
a ternura do amor puro;
uma arapuca sem pressa...
a paz do anjo bom;
Silêncio na mata.
a força do mar bravio;
J
a felicidade que desejamos;
Ventania forte.
a bondade que o adulto não tem;
Casais de pombos passeiam,
a vontade de ser gente.
brincando na praça.
Quisera Deus fossem as crianças
J
Abro o velho livro.
todas lindas e brilhantes,
A folha seca, entre as páginas,
como a Estrela d'Alva
apenas sugere.
no firmamento.
J
Quisera Deus fossem todas
Há
pouco
chovia.
perfeitas e cheias de vida,
Agora apenas o vento
como a flor viçosa, inda botão.
É dono da rua.
Quisera Deus fossem todas
indiferentes à dor, à injustiça, ao mal,
como os rochedos ao vendaval.
Ainda assim, seja criança, homem!
ARLINDO NÓBREGA
São Paulo (SP)