Matão (SP), 11 de Abril de 2014 — Ano 23 — nº 290
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A HORTA CASEIRA É UM ATO LIBERTÁRIO
Neste mundo atual, onde as pessoas estão preferindo ter dentes e garras
afiadas para matar, morder e cortar (mas não mastigam os alimentos), onde
os seres são metade homens e metade bois, a esperança está soterrada por
toneladas de sebo e gordura animal, transgênica e saturada. Os campos
tornaram-se áridos, estéreis, com a terra seca repleta de poeira, enquanto
nas cidades grassa a violência, a intolerância e a destruição generalizada.
Buscam sucesso e dinheiro a qualquer custo, mas o valor a pagar é alto demais
para estas multidões degeneradas e perdidas, trancadas em seus apartamentos ou mesmo vagando pelas ruas imundas das metrópoles asfixiadas.
Florestas são derrubadas e rebanhos abatidos para satisfazer a gula de
espíritos carnívoros, e quem planta não está mais preocupado em produzir
alimentos que saciem a fome da humanidade, e sim lucrar mais e mais com
produtos contaminados por agrotóxicos, geneticamente modificados e sem
sabor. Neste panorama sombrio, o certo tornou-se errado, e os erros refletemse em apáticas aparências solitárias, espectros de nosso tempo, portadores
das doenças modernas que ceifam vidas humanas; galinhas criadas em granjas
seguindo ao extermínio que não tardará. Aqueles que agonizam nos hospitais
e em seus lares querem outra chance, mas sabem que é tarde demais para
um novo recomeço. Estão com as artérias entupidas e não abandonam o
vício da carne; buscando o prazer sem discernimento fogem da realidade e
entregam-se aos senhores da guerra. Porém em meio ao caos, ao lodo e à
barbárie existem aqueles que enxergam uma luz no final do túnel, conseguindo
discernir entre seus desejos banais e a ordem evolutiva do Universo, onde
matar não é preciso para se alimentar e viver em segurança. São aqueles que
com humildade comungam os ideais da Mãe Natureza, e se alimentam de
grãos integrais, de frutos, cereais, raízes e vegetais que se recompõe
rapidamente quando colhidos. Neste cenário, onde alimentar-se é um ato
revolucionário, a horta caseira é um projeto libertário, que une as famílias e
propõe horizontes saudáveis, onde homens, animais e plantas convivam
pacificamente em harmonia com o planeta, que não aguenta mais tanta
exploração. Preparar a terra, plantar e colher é tão importante quanto
selecionar os alimentos que irão à nossa mesa, para que nos alimentemos
sem pressa. A mulher que cozinha alimentos orgânicos oferece o melhor de si
para sua família, e não precisamos comprar para ter. Basta um pouco de
dedicação e a certeza de que a vida é sempre maior do que a morte. Qualquer
um pode ter uma horta, resida em casas, apartamentos, sítios ou alojamentos.
Uma horta pode ser feita em canos e tubos de pvc, num canto do quintal, na
varanda dos prédios ou em vasos-floreiras, convivendo ao lado de perfumadas
espécies ornamentais e coloridas orquídeas. Quem planta seu próprio alimento
evita a degradação ambiental, mudanças climáticas e a fome mundial, na
medida em que se distancia do aquecimento global e da indústria petrolífera.
Quem planta colhe. Quem colhe sabe a maravilha que é estar com os pés na
terra em momentos únicos, onde nos tornamos filhos divinos e abençoados
de um Criador magnânimo, que nos concedeu o livre arbítrio. A horta caseira
é um gesto coerente de independência monetária; é um jardim florido de onde
tiramos nosso sustento. É a resposta a este mundo mau e cruel, habitado por
criaturas nervosas, estressadas, doentes e deprimidas. Se a violência ronda
nossos passos, envolve corações desalmados, e o medo insiste em mostrarse em todos os lugares, lembramos que nem sempre foi assim. Houve uma
era em que a humanidade olhava o céu e compreendia seus desígnios. Um
tempo em que sonhávamos e nos exercitávamos, com melhor qualidade de
vida, pensamento e discernimento. Se hoje a televisão é porta-voz de
incoerências repressoras, e a mídia reflete a vontade dos senhores da guerra,
somos também culpados. Que o Todo perdoe aos alienados e a Luz volte a
clarear espíritos mundanos. Plantemos alimentos orgânicos! Plantemos nosso
próprio alimento... Sejamos exemplos ambulantes e o espelho das águas
cristalinas que sacia a sede de justiça das crianças do amanhã.