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P O R N A T A S H A D A L Y

SOB AS PALAFITAS.

L

arisa Campos tem oito anos. De olhos brilhantes e sorriso largo, carrega o material escolar debaixo de um braço. No outro, segura uma preguiça. Um grupo de turistas acaba de deixar a plataforma em Puerto Alegría, e os moradores estão reunindo seus animais e voltando para casa.

A preguiça ainda é filhote, conta Larisa, e dorme em uma casinha nas árvores. Como todos em sua cidade, a garota vive em uma casa muito simples, construída sobre pilares de madeira para evitar inundações na estação das chuvas.

Na casa dela, converso com a sua tia, que descansa na rede. Como outros do vilarejo, a família pesca para sobreviver, conta. A preguiça garante para elas uma grana extra dos turistas. Ela também diz que o bicho dorme nas árvores; todas as manhãs, como descreve, a família chama e a preguiça desce para comer.

D’Cruze diz que isso é improvável. É comum, ele diz, que os locais que mantêm animais em cativeiro façam uma “lavagem cerebral ecológica” – contando histórias que tiram o peso da consciência dos turistas.

Um detalhe sobre as casas em palafitas é que elas apresentam uma nova dimensão estrutural: um lugar para esticar redes, armazenar móveis antigos e, também, empilhar jaulas com animais.

Ao sair da casa da Larisa, segui alguns micos pela estrada que cruza uma ponte de madeira e passa por várias casas de palafita. Sob uma delas, nas sombras, uma jaula de madeira. Um animal se mexe dentro dela. Vejo o olhar parecido com o de um ser humano na escuridão. Garras, três em cada pata, agarram as grades. Uma preguiça. A jaula é rígida e escura.

LARISA CAMPOS SEGURA UMA PREGUIÇA EM UM DE SEUS BRAÇÕES E SEUS LIVROS DE ESCOLA NO OUTRO ENQUANTO BRINCA COM AS AVES DE SEUS VIZINHOS EM PUERTO ALEGRIA. A FAMÍLIA DA GAROTA GANHA UMA RENDA EXTRA OFERECENDO A PREGUIÇA PARA FOTOS TURÍSTICAS.