Modelos aproveitam a curta
duração da carreira para investir
em outros ofícios
POR ALANNA ANJOS
O mundo da moda trilha um sentido oposto do resto das
categorias profissionais quando o assunto é trabalho e
aposentadoria. Aos 14 anos, muitos modelos já estão na ativa e
dão tchau às passarelas e editoriais de moda, com algumas
raras exceções, quando passam dos 35. Para contornar essa
situação, vários deles apostam em seus próprios negócios ou
atuam em outras áreas ao mesmo tempo.
Dieter Truppel é diretor de arte em uma conceituada agência
de publicidade de São Paulo, ao mesmo passo em que modela
pela WAY. Formado em design, a capacidade de visualizar o
final de alguns projetos ajuda na hora do acting. “Observar os
outros profissionais trabalhando sempre me alimentou
muito. Eu aprendi muito com pesso as incríveis e com muitas
delas já trabalhei dos dois lados, como modelo e como diretor
de arte”, conta ele.
Já Tatiana Dumenti, criadora da marca de resort e praia que
leva seu nome, transportou toda a sua experiência para a
criação de suas peças. Conciliar as duas atividades não é fácil e
o tempo se torna escasso: “É um belo quebra-cabeça infinito!
Quando você consegue encaixar um lado, ainda tem centenas
de peças para serem encaixadas”, esclarece. Os ganhos como
modelo ainda superam os lucros da empresa, mas ela revela
que nas próximas três coleções o retorno será melhor, pois,
mesmo com a crise, a consumidora brasileira está aberta a
novas marcas.
Inspiração Sustentável
Assim como Tatiana, a empresária e também modelo Gabriela
Rabelo criou em 2013 a marca August de moda praia. A
vivência no exterior deu aos trajes de banho o estilo de Nova
Iorque e as raízes brasileiras trouxeram o toque de sensuali-
dade necessário para as peças:“Tive oportunidades que
poucos têm, então o que eu fiz foi pesquisar e prestar atenção
naquilo que minha profissão me permitia.”.
A empresa vai além do apelo fashion. Com um forte compro-
metimento com a sustentabilidade, Gabriela faz questão de
que todos os produtos da marca sejam biodegradáveis, desde
as etiquetas até as embalagens.“Creio que o consumo em
excesso de produtos que agridam seres humanos, animais e
meio ambiente vai diminuir muito daqui para frente, por isso
eu digo que quando compramos algo, a história por trás
daquele produto tem extrema importância”, explica a modelo.
Além disso, a cadeia de fornecimento é toda brasileira,
aumentando a oferta de empregos para artesões em Minas
Gerais, terra natal da fundadora.
Sonho de infân a
O prazo curto de validade da carreira permite que antigas
paixões voltem à tona quando os principais frutos da vida de
modelo já foram colhidos, como a top Ana Claudia Michels,que
após 17 anos dedicando-se inteiramente à atividade de
modelo, decidiu que seguiria o seu grande sonho. “Desde que
me conheço por gente, eu quero ser médica. Já tinha descrito
na minha cabeça que tinha que estudar numa federal e entre
os meus irmãos, eu era a única que sabia o que queria fazer”,
mas o convite para modelar surgiu antes que ela pudesse
correr atrás do sonho de infância.
Entrar na faculdade é uma decisão que requer alguns
sacrifícios e a carreira consolidada foi uma das primeiras a
sofrer o peso da graduação: “O primeiro que sofreu foi minha
carreira de modelo porque eu não tinha mais tempo de me
dedicar nem mentalmente, nem fisicamente, então foi o que
mais teve prejuízo”. A rotina ficou ainda mais atribulada
quando a top se tornou mãe. “Quando eu tive minha filha, eu
virei uma pessoa completamente dividida, porque a vontade
que eu tenho é de ficar com ela o dia inteiro”, afirma.
Contudo, a supermodel que já desfilou para marcas como
Louis Vuitton e Givenchy, dificilmente abandonará as
passarelas por completo. “Fiquei 20 anos trabalhando [como
modelo], então acho que até quando eu for mais velha sempre
vai aparecer um trabalho aqui ou ali”. Mas poucos são os
jovens da atual geração que ficam por tanto tempo em uma
profissão. “Essa geração tem um pouquinho mais de vontade e
coragem para mudar”, reflete Ana Claudia que apesar de ter
mais experiência, já se encaixa nesse perfil de profissionais
mais ousados.
Não existe uma fórmula certeira para desempenhar dois ou
três papéis diferentes com boa desenvoltura, mas fazer o que
gosta já é um grande incentivo para se dedicar de coração as
obrigações que a profissão exige.
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