RENNAN
D
Quem se define se lim a
Na década de 20, para se livrar do
incômodo dos espartilhos, Gabrielle
Bonheur Chanel, mais conhecida como
Coco Chanel, optou por usar calça
pantalona, até então emprestadas do
guarda-roupa do marido.
Além das calças que ousou experimen-
tar em seu dia-a-dia, Coco era extrema-
mente feminista, pois levou para o
guarda – roupa feminino peças
inspiradas no design dos uniformes
militares, como botões dourados,
d e b r u n s e c a m i s a s l i s t ra d a s d e
marinheiro.
O comportamento vanguardista de
Coco daquela época, atualmente é uma
tendência de moda: genderless é o
nome do movimento, no qual o homem
se apropria do vestuário feminino e
vice-versa.
Se naquele tempo, uma das maiores
estilistas do mundo sofreu com algum
tipo de preconceito acerca das peças
que vestia, atualmente esse tipo de
convenção já não deve caber mais em
lugar nenhum. Nem em um apertado
jeans 38.
Para o estilista Rafael Nascimento, a
ideia da moda genderless não é apenas
uma tendência, mas uma nova
categoria. “No futuro, vai ter separado
para você comprar o masculino, o
feminino, além do sem gênero”.
Acontece, porém, que grande parte dos
processos criativos no ramo da moda se
dá por meio de proporções e medidas,
cujos valores pressupõem corpos
“masculinos” e “femininos” de antemão.
A respeito disso, o estilista destaca o
diferencial de sua marca Another Place.
“A gente busca entender o que a
sociedade está vivendo no momento.
Essa sempre é nossa inspiração. Então,
não vem primeiro do que o produto”,
destaca.
A marca de Rafael veste um dos
maiores ícones híbridos do momento:
Pablo Vittar. Com a artista, o estilista
diz conseguir traduzir, de fato, o valor
genderless da marca. “Ela transita
entre os dois gêneros. É legal fazer
roupa para ela porque conseguimos
materializar esse conceito, porque ela é
um homem se vestindo de mulher”,
acredita ele.
Já para a modelo Michi Czastka, natural
de Curitiba, conhecida por seu estilo
andrógeno, a moda sem gênero difere
do conceito de androgenia. “Para mim,
o genderless é aparência e a androginia
é essência. O ramo da moda está
aceitando bem o meu perfil por eu
trazer uma cara nova aos mesmos
padrões”, aponta.
O seu conhecimento quanto ao assunto
é, por consequência, reflexo de seu
posicionamento sobre a tendência. “A
importância do genderless se dá a partir
do momento em que vemos a moda
como um dos canais que controlam o
comportamento social. Assim, ela não
diz o que você deve vestir, mas o que
você deve ser”, acredita a modelo.
Por tudo isso, ela reflete sobre qual
papel deveria ter na moda, além de
palpitar sobre o futuro. “Meu papel
continuará sendo a união entre
aparência e essência. Exatamente da
forma como sou, sem esconder nada
para ninguém. A moda consciente
acontece aí, na inclusão de todas as
diferenças em algo concreto, para
depois levar adiante a ideia para maior
assimilação da nova era em que já
entramos. A era do amor”, completa a
modelo—verdadeiramente.
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