AMO
& ALHO
POR RAFAELA CARDOSO
Apesar do pouco tamanho, Celina
Delfino é a gigante da cozinha da WAY.
As suas mãos carregam as marcas de
duas décadas lidando com o fogão e em
seus olhos permanece o brilho maroto
que as asperezas da vida não consegui-
ram tirar. Segunda irmã mais velha de
nove filhos, Celina mudou-se com a
família de Casa Branca, interior de São
Paulo, para a capital paulista aos nove
anos. O clã Delfino chegou ao Jardim
Selma nos anos 1950, quando ainda não
havia luz nas ruas do bairro e a estrada
era de terra. A cozinheira cresceu vendo
a mãe batalhar para garantir o sustento
da casa como doméstica. Com apenas 10
anos, a pequena Celina auxiliava a
matriarca nas limpezas ou ficava em
casa cuidando dos irmãos mais novos.
Aos 15, veio o primeiro de seis filhos —
um deles já está com Deus. Para criá-los,
ela seguiu os mesmos passos da mãe e
trabalhou como doméstica em casas de
famílias. No fim dos anos 90, seu filho
Rafael Matos, na época com 16 anos, foi
abordado por um scouter enquanto
limpava vidros na avenida Faria Lima.
Junto com a nova profissão de modelo
do filho surgiu a oportunidade de
trabalhar como faxineira na empresa
que o agenciava, a extinta Marilyn.
O desafio da couve
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Depois de algum tempo trabalhando na
limpeza da agência, o diretor Zeca de
Abreu propôs um teste para Celina: se
ela preparasse uma couve refogada
sem deixá-la amarelada, o cargo de
c o z i n h e i ra s e r i a d e l a . “A c o u v e
amarelou um pouco, mas ele deixou eu
passar”, diverte-se ao relembrar.
Apesar de sempre gostar de cozinhar,
Celina não tinha experiência em
preparar refeições para mais de 30
pessoas. “Quando eu vi esse monte de
gente, eu amei e fiz de tudo para
aprender, para pegar no panelão”. Os
próprios funcionários da agência foram
os responsáveis por ensiná-la a preparar
os pratos do cardápio da empresa. “Eu
gostaria de fazer curso, mas nunca
consegui. Mas mesmo assim tem um
monte de gente que gosta da minha
comida, do meu tempero”. Segundo ela,
o seu segredo são os dois As: amor e alho
— e, às vezes, um pouquinho de cebola e
salsa.
A cozinheira acompanhou as transi-
ções da agência e viu muitos modelos
crescerem. Em suas memórias, os tops
Marlon Teixeira e Caroline Trentini
têm um lugar especial. “A Carol chegou
aqui bem pequena e ela ficava com nós
na cozinha. A mãe mandava a gente
tomar conta dela”. Marlon é seu atual
muso: “ele chegou na agência pobre,
pobre, pobre. Agora ele é muito rico,
mas mesmo assim ele me abraça, me
beija, vem aqui e come minha comida.
Ele continua simples”, derrete-se.
Mãos para o alto,
isso é um susto!
Atualmente, Celina mora com a filha
mais nova e com seu xodó, o neto
Miguel, de 6 anos, no mesmo bairro em
que cresceu. A casa foi reformada
recentemente com a ajuda da agência.
“A WAY me ajudou muito, em tudo. Eu
nunca vou esquecer o que o Zeca e o
Dando fizeram por mim”. É o chefe,
aliás, o responsável pelos memoráveis
sustos que fazem seus gritos ecoarem
pela sede da empresa. “Eu amo as
brincadeiras. Eu gosto de bagunça. Mas
agora que eu fiquei adoentada, eu sinto
falta. Mas não falo para ele não, eu fico
quieta”. Neste ano, foi a vez dela dar um
susto em todos com um princípio de
infarto, que fez com que as brincadei-
ras suavizassem.
Aos 60 anos, vó de sete e bisa de dois,
Celina acorda todos os dias às 5h45 para
a rotina, que em 2018 será mais leve.
Com a aposentaria em curso, talvez ela
tenha tempo para realizar um sonho
adormecido: aprender a dirigir. “Nunca
contei para ninguém. Eu sonhava e
sonho até hoje que estou dentro do
carro no volante”.