My first Magazine Revista Sarau Subúrbio ed 02 | Page 41

O que ninguém sabia era que o "gringo", quinze anos antes, tinha sido estudante de medicina em Córdoba; atuou na clandestinidade em plena ditadura do general Videla e decidiu largar os estudos e se proletarizar "pela revolução internacional". Por ser militante do Movimento ao Socialismo, organização coirmã da Convergência Socialista, acabou parando no Rio Grande do Sul, onde se casou. Lá nasceu Laura e, depois, Lélio e família vieram estacionar no Rio de Janeiro. E, lá estava ele, Lélio, em meio a uma pelada bem próximo à favela de Vigário Geral, local perigoso diziam os jornais. Mas, com certeza, muito mais seguro do que a Argentina da ditadura militar, da época da sua juventude. Será? De repente, o jogo foi interrompido: jovens armados, com um carregamento pesado, passaram no meio da pelada. Tudo se deu de forma rápida, mas de uma maneira respeitosa com os trabalhadores boleiros que se aventuravam como craques naquela tarde de domingo. Passados 28 anos, ninguém lembra qual foi o resultado da pelada. Já os personagens daquela tarde ensolarada de Vigário Geral tiveram destinos diferentes: Érico assistiu, já afastado, a sua Força Independente do Vasco (uma torcida ecumênica que permitia a participação de tricolores, botafoguenses e... rubro- negros) se diluir na Força Jovem. Chico Pereira continuou trabalhando com vendas, se tornaria compositor do grupo "Cambada Mineira" e sua casa, a poucos metros do campo de pelada da CETEL, passou a abrigar encontros mais tranquilos, com artistas como Vital Farias, Geraldo do Norte, Socorro Lira, Paulinho Pedra Azul e Márcio Borges. Já Luiz Carlos Máximo venceu seis sambas-enredos na Portela e na São Clemente. Por sua vez, JR dirigiu um botequim na rua Joaquim Silva, na Lapa, onde começou a se formar o grupo "Galocantô". E quanto a grande sensação daquela tarde, o argentino Lélio? Ele foi trabalhar, cinco anos depois, com Geraldão, na Asca de Vigário. Com a crise de desemprego, voltou para o Rio Grande do Sul, depois para Argentina, onde deixou de ser metalúrgico e se formou em História. E, para a História não ficar incompleta, a pergunta que não foi respondida por essa crônica: "o argentino era mesmo bom de bola?". Se ninguém lembra qual foi o resultado da pelada, todos os presentes ainda vivos daquela tarde, se recordam com absoluta certeza: "o gringo não jogava nada". A l e x B r a s i l : H i s t o r i a d o r