My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 8
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Prefácio
A noite dos caçadores de liberdade
Houve um tempo, senhoras e senhores, em que ao ziguezague da profissão do jorna-
lista se impunha um segundo ato glorioso.
Nem faz tanto tempo assim. Após o expediente diário e o fecho das redações, na ma-
drugada, os jornalistas se encontravam para beber a utopia da saideira infinita.
Era um processo de fabricação de inteligência, embate de ideias e sonho de liberdade
que em condições ideais durava até o alvorecer.
Não há glória comparável a do redator que escreve página imortal e permanece vivo
na boemia a tempo de lamber a cria em papel jornal colocada à porta do bar como um
bebê abandonado.
Já vi sujeitos tarimbados subirem no banquinho para ler, em voz alta e às lágrimas,
seus textos para os aplausos calorosos de uma curriola atenta. Ninguém me conven-
ce que prêmio da indústria petroleira supere este reconhecimento extremo.
Foi com esta reverência – a do bêbado que ouve em primeira mão a matéria que um
dia verá pendurada na parede do boteco - que li as páginas deste A Luta Bebe Cerveja,
crônica das aventuras etílicas da peculiar congregações de jornalistas curitibanos du-
rante a (pen)última (?) ruptura democrática da república.
Uma ideia tão boa que só podia ter vindo da cabeça da Anna Sens, talento da geração
de repórteres encarregada de varrer a minha para baixo do tapete da obsolência.
O texto é fluido e perigosamente tragável. Como as doses de amargo com limão que
em dias de frio te vão entorpecendo.
Além do talento de “ver e ouvir as gentes”, Anna Sens soube vestir sua pesquisa com
roupa de noite, como a ocasião exigia. Há uma lufada de ar quente. Uma ginga em sua
prosa que evoca a prosódia gaiata do mundaréu do Plínio Marcos ou das copas dos
bares de João Antônio (que ela confessou-me nunca ter lido).